60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ABDOMINOPLASTIA: ANALISANDO COMPLICAÇOES E FATORES DE RISCO

Resumo

A abdominoplastia é um dos principais procedimentos da cirurgia plástica apresentando uma gama de aplicações e técnicas1-3. Em virtude disto, é necessário aprofundar os conhecimentos sobre os fatores que possam estar mais associados a complicações pós-operatórias a fim de melhor selecionar e preparar nossos pacientes para a cirurgia. Este estudo transversal e retrospectivo analisou 33 pacientes operados entre 2020 e 2024 em um hospital universitário de cirurgia plástica de uma capital do Brasil e identificou que fatores como IMC, idade, comorbidades, tabagismo e escore de Caprini podem estar associados a maiores chances de complicações após a abdominoplastia, corroborando a literatura sobre o assunto.

Introdução

A abdominoplastia é um dos cinco procedimentos cirúrgicos estéticos mais procurados por pacientes, de acordo com o ranking de 2023 da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), que evidenciou um aumento nos procedimentos relacionados ao “contorno corporal”1. A cirurgia pode ser realizada com técnicas diferentes, mas seu princípio consiste em melhoria estética e funcional das camadas de pele, tecido adiposo e músculo, através da incisão menos notável possível. A abdominoplastia é desejada não só por remodelar o contorno abdominal, mas também impacta significativamente o bem-estar físico e psicológico das pessoas. Isso se dá ela capacidade de abordar diversas preocupações, desde o excesso de pele e gordura após perda de peso intensa ou gestação até fraqueza dos músculos abdominais2,3.
Ainda, com diversos avanços das técnicas nos anos recentes, a gama de opções de intervenções cirúrgicas se tornou mais variada e individualizada, com o intuito de alcançar resultados harmônicos e naturais.
As taxas de complicações locais e sistêmicas após o procedimento ainda são relativamente altas, independentemente da técnica, e apesar de serem de fácil manejo e bom prognóstico, podem comprometer o resultado esperado e satisfação do paciente. As principais complicações locais, em ordem de frequência, são: formação de seroma, infecção local, necrose cutânea e deiscência da ferida operatória, hematoma e outras apresentações tardias. Já as complicações sistêmicas são: tromboembolismo venoso, insuficiência respiratória e óbito.4
Esse artigo aprofunda-se na análise de complicações da abdominoplastia e seus fatores de risco associados; examinando possíveis correlações estatísticas que possam ajudar em como minimizar intercorrências, como otimizar o paciente no pré-operatório e como melhor selecionar pacientes candidatos para tal cirurgia.
A decisão de se submeter a abdominoplastia é complexa, envolvendo os desejos e expectativas dos pacientes, variações anatômicas e expertise do cirurgião. Esse artigo visa fornecer uma visão baseada em evidências sobre a abdominoplastia, levando aos profissionais e pacientes o conhecimento necessário para uma tomada de decisão conjunta e segura, contribuindo para melhores resultados no âmbito da cirurgia estética e reconstrutiva.

Objetivo

OBJETIVO GERAL: Avaliar a relação de variáveis e comorbidades pré-operatórias com as diferentes complicações pós-operatórias nas técnicas de abdominoplastia.

Método

Foram avaliados, retrospectivamente, os prontuários de todos os pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico de abdominoplastia e dermolipectomia abdominal no período de fevereiro/2020 a janeiro/2024, pelo serviço de Residência Médica em Cirurgia Plástica de um hospital universitário da capital do estado.
A pesquisa contou com 33 prontuários para análise dos quais foram extraídos os seguintes dados: Registro de prontuário, data de nascimento, gênero, índice de massa corpórea (IMC) pré-operatório, presença de comorbidades, eventos cardiovasculares prévios (definidos neste estudo como infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC) em algum momento prévio a realização da cirurgia), tabagismo (se atual ou prévio), etilismo (se atual ou prévio), drogadição (se atual ou prévio), cirurgias prévias, data da cirurgia analisada, dosagem de albumina pré-operatória, presença de complicação precoce (definida como evolução desfavorável no período durante o período de internamento logo após a realização da cirurgia analisada), tipo de complicação precoce (se local ou sistêmica; sendo “complicação local” definida como evolução desfavorável relacionada a região da pele e tecido subcutâneo do abdome; e “complicação sistêmica” definida como evolução desfavorável relacionada a outro órgão ou sistema que não a pele ou tecido subcutâneo do abdome), descrição da complicação local e/ou sistêmica, necessidade de novo procedimento durante o internamento para tratamento da complicação precoce (e se foi necessário realização do procedimento em centro cirúrgico), evolução a óbito, necessidade de vaga em unidade de terapia intensiva (UTI) e período internamento em ambiente de UTI, dias de internamento hospitalar, necessidade de reinternamento precoce (definido como nova necessidade de internamento hospitalar por intercorrências relacionadas ao procedimento no período de 30 dias após a cirurgia), técnica de cirurgia realizada (se abdominoplastia ou dermolipectomia isolada), presença de complicações no primeiro retorno ambulatorial e quais complicações, realização de profilaxia para tromboembolismo venoso (TEV) (considerada para este estudo como medidas mecânicas e farmacológicas) e o escore de Caprini.

Para a finalidade deste estudo, os pacientes foram divididos naqueles que realizaram a “abdominoplastia”, técnica cirúrgica que compreende a dermolipectomia abdominal associada a sutura do reto abdominal para correção de diástese, e os que realizaram a “dermolipectomia abdominal isolada”, técnica estrita de dermolipectomia, sem correção da diástese de reto abdominal. “Dermolipectomia higiênica” ou “paniculectomia” foi realizada em apenas 1 paciente que apresentava IMC >40 e complicações devido a dobra abdominal acentuada. Esta terminologia foi adotada para transmitir a ideia de que a cirurgia não retirou todo o excesso de pele e gordura possível, e sim, apenas o suficiente para permitir melhor higiene pessoal para o paciente em questão.
Como parte da padronização do atendimento, estes pacientes tem sua primeira consulta ambulatorial pós-operatória em 5 a 7 dias da alta, com orientações de retorno imediato ao serviço de referência caso haja intercorrências na evolução esperada.

Resultado

Dos prontuários analisados (n=33), foram identificados os seguintes dados:
I) Dados sociodemográficos e histórico médico prévio:

Foram identificados 32 pacientes femininos (96,99%) e 1 paciente masculino. A média de idade da amostra foi de 48,2 anos. Com relação ao IMC a média foi de 28,52 kg/m². Dos pacientes, 17 (51,5%) deles apresentavam alguma comorbidade e 16 não tinham nenhuma comorbidade. Das comorbidades relatadas: 9 pacientes apresentavam hipertensão (27,2%), 4 pacientes diabetes (12,1%), 4 pacientes hipotireoidismo (12,1%), 4 pacientes com obesidade (12,1%) – sendo que destes, 2 pacientes tem obesidade grau 3 (6%) - 1 paciente com fibromialgia (3%), 1 paciente com transtorno bipolar (3%) e 1 paciente asmático (3%). Sobre dependências: 1 paciente reportou tabagismo ativo (3,03%), 3 pacientes reportaram tabagismo prévio (9,09%), 2 pacientes reportaram etilismo prévio (6,06%) e nenhuma paciente reportou uso ativo de outras drogas. Sobre cirurgias prévias, 28 pacientes realizaram ao menos alguma cirurgia (84,84%) - sendo que destas, 24 pacientes reportaram pelo menos alguma cirurgia na região abdominal (72,72%). Das cirurgias relatadas, as mais comuns foram cesarianas (n= 12 - 37,5%) e laparotomias medianas (n= 7 – 21,2%).
II) Análise das cirurgias realizadas no período:
Das 33 cirurgias realizadas, 19 delas foram abdominoplastias convencionais (57,6%), 10 foram dermolipectomias isoladas (30,3%), 1 abdominoplastia em âncora (3%), 2 abdominoplastias associadas a lipoaspiração do retalho (6,1%) e 1 dermolipectomia considerada “higiênica” (paniculectomia) (3%). Foi identificado que 13 pacientes evoluíram com alguma complicação precoce (39,4%). Apenas 2 pacientes necessitaram de vaga de UTI no pós-operatório (6,06%), mas em ambos os casos a necessidade de UTI foi decorrente ao risco anestésico, e não devido a complicações peri-operatórias. A média do tempo de internamento em enfermaria foi de 2 dias. A média do escore de Caprini dos pacientes foi de 3,2 com valores variando entre 1 e 8. Todos os pacientes realizaram alguma forma de profilaxia para TEV (seja de forma mecânica ou farmacológica).
Os pacientes foram separados em dois grupos distintos: pacientes que evoluíram com complicações, fossem elas locais ou sistêmicas (n= 13) e pacientes que não tiveram complicações (n= 20).
Seguem as informações analisadas nos dois grupos de forma individualizada:
III) Sobre as complicações avaliadas (n= 13):
Neste grupo, foi identificado que 13 pacientes evoluíram com alguma complicação precoce (39,4%) - sendo que 11 apresentaram complicações locais (33,3%) e 5 apresentaram complicações sistêmicas (15,1%). As complicações locais mais comuns foram deiscência (parcial ou completa) (n= 8 – 24,24%) e necrose (n= 5 – 15,15%). As menos comuns foram seromas (n=3 – 9,09%) e hematomas (n=3 – 9,09%). Das complicações sistêmicas, hipotensão foi a mais comum (n= 5 – 15,15%). Em 5 casos (38,5%) foi necessário algum procedimento adicional (drenagem de hematoma, reposicionamento de drenos), sendo que 1 caso (7,7%) necessitou de abordagem em centro cirúrgico (drenagem de hematoma).

Discussão

Os dados que demonstram uma diferença de desfecho entre os grupos são a idade e o IMC, sugerindo que ambos sejam de grande importância ao selecionar pacientes para cirurgias eletivas. Na literatura, é sabido que pertencer a faixas etárias mais avançadas no pós-operatório de abdominoplastia (>65 anos) é fator de risco significativo para complicações da ferida, bem como para todos os tipos de complicações.
Com relação ao IMC, a obesidade é fator potencial para evolução de desfechos adversos nos pós-operatório, sendo quase o dobro da taxa de complicações em comparação com pacientes com peso normal 5. No pós-operatório, por exemplo, pacientes com obesidade grau 3 apresentaram taxas muito maiores de complicações de ferida (17,8% versus 6,8%) e tromboembolismo venoso (1,5% versus 0,7%), tendo também apresentado maiores taxas de reoperação não planejada (9,2% versus 3,7%) e readmissões em 30 dias (3,5% versus 1,0%)6.
Outro dado importante de ressaltar é que apesar da proporção de pacientes com comorbidades ser próxima entre os grupos que evoluíram e não evoluíram com complicacões (Sem complicação= 45% | Com complicação= 54%), o perfil destas doenças é diferente: os pacientes que evoluem com complicação tendem a apresentar mais doenças associadas a síndrome metabólica (ex.: hipertensão, diabetes e obesidade). Isso chama a atenção por trazer a noção de que esta condição pode afetar os desfechos pós-operatórios de forma multifatorial.
Sobre tabagismo, apenas 1 paciente reportou tabagismo ativo durante o período peri-operatório, com carga tabágica aproximada em 10 maços/ano. Este paciente evoluiu com regiões de deiscência da ferida operatória, confirmando que o tabagismo causa efeito deletério nos tecidos, alterando o processo de cicatrização.
Entre o grupo sem complicação, as cirurgias da parede abdominal tenderam a serem menos invasivas, com incisões menores e sem contaminação local. Enquanto o grupo com complicação apresentou maior incidência de cirurgias com incisões maiores, com necessidade de múltiplas reabordagens e com feridas contaminadas. Isto sugere que a parede abdominal do paciente pode se tornar fragilizada conforme o grau de agressão cirúrgica prévio.
Entre os grupos notou-se diferença no escore de Caprini (Sem complicação= 2,9 ±1,13 | Com complicação= 3,76 ±1,62), mesmo que não tenhamos identificado casos de tromboembolismo venoso.
Quanto às complicações identificadas e as suas prevalências, os dados foram compatíveis com a literatura. Até 39,4% dos pacientes evoluiu com alguma complicação, sendo que na literatura até 55,5% dos pacientes evoluem com alguma complicação, sendo 87% delas sem grandes repercussões para o final desejado6. Em relação às complicações individuais, as taxas também se encontraram dentro do esperado: seroma 9,1 %; hematoma 9,1 %; deiscência 24,2 %; necrose de pele 15 %.

Conclusão

Neste trabalho, foram identificados dados que reforçam a literatura quanto a relação entre maiores taxas de complicações em abdominoplastias e pacientes obesos, idosos, tabagistas, diabéticos e com escores de Caprini mais elevados. As taxas de complicações foram muito similares à literatura mundial. Deste modo, através das análises realizadas, é possível otimizar a seleção, preparação e resultados pós cirúrgicos dos pacientes candidatos a abdominoplastia.

Referências

1. International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). (2023, January 9). ISAPS Global Survey Results 2023. Mount Royal, NJ: PR Newswire.
2. Matarasso, A., Matarasso, D. M., & Matarasso, E. J. (2014). Abdominoplasty: Classic principles and technique. Clinics in Plastic Surgery, 41(4), 655-672. https://doi.org/10.1016/j.cps.2014.07.005
3. Borille, D. C., Rossi, R. M., De Santis, J. B. D., & Matias, M. C. (2022). Epidemiological profile of patients who underwent abdominoplasty in a reference service in the extreme south of Brazil. Brazilian Journal of Health Review, 5(2), 9319-9332. https://doi.org/10.34119/bjhrv5n2-224
4. Azevedo, D. M., Brito, M. J., Moreira, T. S., Blume, C. A., Chaves, G. S., & Nahas, F. X. (2019). Quality of life and patient satisfaction after abdominoplasty. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 34(4), 494-500. https://doi.org/10.5935/2177-1235.2019RBCP0116
5. Winocour, J., Gupta, V., Ramirez, J. R., Shack, R. B., Grotting, J. C., & Higdon, K. K. (2015). Abdominoplasty. Plastic and Reconstructive Surgery, 136(5), 597e–606e. https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000001700
6. AlQattan, H. T., Mundra, L. S., Rubio, G. A., & Thaller, S. R. (2017). Abdominal contouring outcomes in class III obesity: Analysis of the ACS-NSQIP database. Aesthetic Plastic Surgery, 42(1), 13-20. https://doi.org/10.1007/s00266-017-0976-y

Palavras Chave

Abdominoplastia; Complicações pós-operatórias; Contorno corporal

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Universitário Cajuru - Paraná - Brasil

Autores

NICOLLY ZENI TRENTIN, DAYSON LUIZ NICOLAU DOS SANTOS, GABRIEL MARQUES BIAVA, JÉSSICA BITTENCOURT LISBÔA, LÍVIA ASSUNÇÃO DAVET