Dados do Trabalho

Título

Uso do retalho de Schmid-Meyer para reconstrução da asa nasal: relato de caso

Resumo

Algumas patologias, como traumas e carcinomas, podem gerar defeitos significativos no terço inferior do nariz, levando a necessidade de reconstruções. Muitas técnicas cirúrgicas já foram descritas para reparar defeitos nasais. O retalho de Schmid-Meyer, uma técnica pouco conhecida, representa um retalho tubular com pedículo supraciliar que permite a reconstrução do terço inferior do nariz. Relato de caso: o caso apresenta um paciente que foi submetida a reconstrução da asa nasal direita com a confecção do retalho de Schmid-Meyer, após tratamento de um carcinoma de pele. Conclusão: O retalho de Schmid-Meyer pode ser uma das melhores opções para a reconstruçãoo do terço inferior do nariz.

Introdução

O nariz é o sítio de 30% dos carcinomas de pele localizados na face (1). Em alguns casos, amplas ressecções podem ser necessárias, sem possibilidade de fechamento primário. Neste cenário, a reconstrução nasal deve buscar alguns objetivos: ressecabilidade com margens livres, alcançar resultado de aparência normal, resgate funcional e da autoestima, retorno ao convívio familiar, social e laboral. (2)

Algumas são as possibilidades para a reconstrução do nariz, como uso de enxertos, retalhos de avanço, retalho uni ou bilobados, retalho médio frontal. Existe, ainda, o retalho fronto-temporal ou de Schmid-Meyer, um retalho pouco utilizado nos dias de hoje. (3)

Para Meyer, as principais vantagens deste retalho são 1) fácil adaptabilidade às exigências de forma e estrutura do local receptor, 2) boa correspondência de cores e 3) cicatrizes imperceptíveis da área doadora. Com a adição de cartilagem auricular e enxertos de pele de espessura parcial ao retalho, a ponta, a columela, o septo e a asa nasal podem ser reconstruídas para reproduzir a forma externa e as estruturas internas do defeito. (2)

O retalho fronto-temporal consiste em duas partes: um retalho supraciliar horizontal e uma porção temporal que representa a parte composta do retalho utilizado para substituir as estruturas faltantes no local receptor. A depender da estrutura ausente, a parte temporal pode ser levantada em vários formatos para melhor reconstrução da estrutura (3)

Objetivo

O presente artigo tem como objetivo fazer um relato de caso de reconstrução do terço inferior do nariz utilizando o retalho de Schmid-Meyer, uma técnica pouco utilizada nos dias de hoje.

Método

Estudo retrospectivo de relato de caso onde foi realizado a ressecção de um carcinoma basocelular em asa nasal direita seguido de reconstrução com confecção de retalho de Schmid-Meyer. A sequencia cirúrgica foi descrita em conjunto com o resultado estético e funcional no pós-operatório imediato e após 6 dias foi avaliado.

Resultado

O retalho de Schmid-Meyer permite uma excelente reconstrução da asa nasal e ponta, em alguns casos. Neste caso apresentado, A opção pelo retalho fronto-temporal deveu-se à presença da lesão em região zigomática direita, o que permitiria o tratamento também desta patologia por meio de um prolongamento da incisão e no mesmo procedimento operatório. O resultado cirúrgico no curto prazo foi considerado satisfatório para a equipe médica.

Discussão

H.R.A, feminina, 80 anos, apresentando duas lesões de pele suspeitas para carcinoma na face, sendo uma em asa nasal direita e outra em região zigomática direita (foto 1a e 1b).
Foi realizado marcação das lesões com caneta dermográfica estéril respeitando as margens oncológicas, seguido de ressecção das lesões pela equipe da Cirurgia de Cabeça e Pescoço. A ressecção foi de espessura total, incluindo cartilagem alar. (Foto 2)
A reconstrução foi realizada pela equipe da Cirurgia Plástica utilizando o retalho de Schmid-Meyer, associado a enxerto de cartilagem para reconstrução do arcabouço da asa nasal, sendo a área doadora o septo nasal (Foto 3).
A ferida da região temporal foi deixada cruenta com curativo úmido com local oleosa de ácidos graxos essenciais e tela não aderente. O defeito supraciliar foi fechado utilizando a pele frontal.
A foto 4 mostra o pós-operatório imediato. Um Rapid-Rhino foi usado como molde temporário por 24h no introito nasal. A foto 5 mostra a paciente no sexto dia de pós-operatório no retorno ambulatorial.

O resultado do estudo anatomopatológico das duas lesões ressecadas revelou Carcinoma Basocelular (CBC) nodular infiltrando até derme reticular e as margens de ressecção estavam livres de doença.
Imagens: 1) 1a. Pré-operatório: vista frontal da lesão em asa nasal direita; 1b. pre-operatorio: vista lateral lesão nasal demarcada e lesão zigomática direita
2) 1. Defeito resultante da rinectomia parcial direita devido a CBC nasal avançado; 2. Defeito resultante de exérese de CBC zigomático a direita.
3) 1. Retalho fronto-temporal dissecado 2. Reconstrução do arcabouço cartilaginoso com enxerto de cartilagem de septo nasal
4) Transposição do retalho para a área de defeito (reconstrução da asa nasal e ponta nasal à direita). Molde temporário em introito nasal com dispositivo Rapid Rhino
4) Pós-operatório imediato
5) 6º Dia de Pós-operatório

Conclusão

O câncer de pele não melanoma é um tipo muito frequente de carcinoma que atinge a pele em áreas fotoexpostas, com especial acometimento do nariz. Muitas vezes as ressecções são amplas e estratégias cirúrgicas mais complexas devem ser utilizadas para atingir os objetivos da reconstrução nasal: tratamento oncológico, aprimoramento da aparência normal e melhor desfecho funcional.
O retalho fronto-temporal pode ser usado para reconstruir vários tipos de defeitos nasais parciais e é mais uma opção que o Cirurgião Plástico deve dominar para compor seu arsenal terapêutico e proporcionar a melhor opção para o paciente.

Referências

1. Reconstruction des pertes de substances du nez : algorithme décisionnel à propos de 229 cas Nasal reconstruction: Decision tree based on 229 operated cases. Annales de Chirurgie Plastique Esthétique. Volume 67, Issue 1, February 2022, Pages 7-13
2. Disa, Joseph J. M.D.. Grabb's Encyclopedia of Flaps, Volume 1: Head and Neck, Third Edition. Plastic and Reconstructive Surgery 125(2):p 747-748, February 2010. | DOI: 10.1097/01.prs.0000358870.82308.4
3. Arnaud D, Potier B, Jeufroy C, Darsonval V, Rousseau P. Le lambeau fronto-temporal de Schmid-Meyer dans les reconstructions nasales [Schmid-Meyer fronto-temporal flap for nasal reconstruction]. Rev Stomatol Chir Maxillofac. 2012 Dec;113(6):423-32. French. doi: 10.1016/j.stomax.2012.10.002. Epub 2012 Nov 13. PMID: 23153631.
4. Dubey, S.P., Molumi, C.P., Swoboda, H. (2020). External Nasal Defects Repair. In: Dubey, S., Molumi, C., Swoboda, H. (eds) Color Atlas of Head and Neck Surgery. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-29809-8_2
5. Schmid E. Ueber die Haut-Knorpel-Transpiantationen aus der ohrmuschel und ihre funktionelle and aesthetische bedeutung bei der deckung von gesichtsdefektenn. Fortschr Kiefer Gesichtschir 1961;7:48.
6. Meyer R. Rekonstruktion der nasenfluegel mit zusammengestztem ohrmuscheltransplantat. Monatsschr Ohrenheilkd 1955;89:27.

Palavras Chave

retalho fronto-temporal; retalho de Schmid-Meyer; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos

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