Dados do Trabalho
Título
ANALISE RETROSPECTIVA DE INFECÇOES DO SITIO CIRURGICO EM CIRURGIA PLASTICA: EXPERIENCIA EM JUIZ DE FORA
Resumo
Infecções do sítio cirúrgico (ISC) são preocupantes na cirurgia plástica, afetando morbidade, estética e custos hospitalares. Este estudo no Hospital Universitário de Juiz de Fora (HUJF) investigou ISC em 362 pacientes entre dezembro de 2023 e maio de 2024. Foram identificados 8 casos de ISC (taxa de 2,21%). Hipertensão arterial foi comum entre os afetados, com diagnóstico médio de ISC em 16 dias. Análise estatística usando SPSS revelou variáveis significativas, incluídas em regressão logística multivariada para identificar fatores de risco. Antibioticoterapia profilática e manejo de feridas são cruciais na prevenção. Tipo de procedimento e características individuais também influenciam ISC. Este estudo preenche lacunas locais na literatura, oferecendo recomendações para práticas clínicas e redução de morbidade relacionada à ISC no HUJF. Adaptar estratégias preventivas e vigilância rigorosa são essenciais para otimizar resultados na cirurgia plástica e reconstrutiva.
Introdução
As infecções do sítio cirúrgico (ISC) são preocupações significativas em cirurgia plástica, impactando morbidade, resultados estéticos e custos hospitalares. Estudos indicam que ISC podem ocorrer em até 5% das cirurgias estéticas e 15% das reconstruções complexas, associadas a prolongamentos de internação, reintervenção cirúrgica e comprometimento pós-operatório (Olsen et al., 2002; Reid et al., 2021).
Fatores de risco incluem comorbidades como diabetes e obesidade, tipo de procedimento, duração da cirurgia, uso de antibióticos profiláticos e técnicas cirúrgicas específicas (Atiyeh et al., 2009; Semsarzadeh et al., 2013). Compreender esses fatores é crucial para implementar estratégias preventivas eficazes.
Instituições têm adotado programas de segurança em unidades cirúrgicas para padronizar práticas, educar profissionais de saúde e monitorar resultados, com sucesso em outras especialidades cirúrgicas.
O HUJF, centro de excelência em cirurgia plástica, enfrenta desafios únicos na prevenção de ISC devido às características demográficas e clínicas dos pacientes e particularidades dos procedimentos. Este estudo retrospectivo visa preencher lacunas ao fornecer dados sobre ISC na nossa população, identificar fatores de risco locais e avaliar estratégias preventivas.
Investigação prospectiva oferece insights atualizados sobre ISC no HUJF, permitindo análise detalhada de casos e identificação de padrões para intervenções futuras. Revisões sistemáticas destacam a seleção de antibióticos profiláticos na redução de ISC em cirurgia plástica, sugerindo ajustes para otimizar diretrizes locais.
Este estudo não só preenche lacunas na literatura local, mas também melhora a qualidade do cuidado em cirurgia plástica no HUJF. Oferecendo análise da incidência de ISC e fatores contribuintes, esperamos fornecer recomendações para aprimorar políticas de prevenção.
Esperamos identificar melhorias como protocolos de antimicrobianos mais direcionados, revisão de práticas de higienização cirúrgica e educação continuada. Transparência dos resultados incentiva colaboração entre equipes cirúrgicas, enfermagem, microbiologia e farmácia clínica, fortalecendo segurança do paciente.
Este estudo não se limita a descrever ISC, mas impacta prática clínica, promovendo abordagem baseada em evidências para prevenção e manejo de complicações em cirurgia plástica. Fornecendo dados relevantes localmente, contribuímos para segurança e eficácia dos cuidados, alinhados aos padrões de excelência e bem-estar geral.
Objetivo
Este estudo tem como objetivo investigar a incidência, os fatores de risco e as estratégias de prevenção de infecções do sítio cirúrgico (ISC) em pacientes submetidos a procedimentos de cirurgia plástica e reconstrutiva em Juiz de Fora, no período de dezembro de 2023 a maio de 2024. Utilizando dados de prontuários médicos, pretendemos analisar retrospectivamente a ocorrência de ISC, identificar os principais fatores de risco associados e avaliar a adequação das medidas de prevenção adotadas. Ao fazê-lo, buscamos contribuir para o aprimoramento das práticas clínicas e a redução da morbidade relacionada à infecção em pacientes submetidos a cirurgia plástica e reconstrutiva na região de Juiz de Fora.
Método
De dezembro de 2023 a maio de 2024, conduzimos um estudo retrospectivo em unidades de cirurgia plástica e reconstrutiva no serviço de assistência da Universidade Federal de Juiz de Fora em 2 hospitais. A população do estudo incluiu 362 pacientes consecutivos submetidos a procedimentos cirúrgicos plásticos e reconstrutivos, realizados em bloco cirúrgico. Do total de pacientes, a idade média foi 45 anos (variação de 3 a 91 anos). As características demográficas e clínicas da população foram registradas, incluindo histórico de diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), tabagismo, hipertensão arterial e outras comorbidades5,6.
O desfecho principal foi a ocorrência de infecção do sítio cirúrgico (ISC) durante a internação hospitalar ou até 30 dias após a alta, diagnosticada de acordo com os critérios de vigilância do Center for Disease Control and Prevention (CDC, 2022).
Para o tratamento e análise dos dados da pesquisa, utilizou-se o software G*Power versão 3.1.9.7, adotou-se um intervalo de confiança (IC) de 95%, e porcentagem de erro de 1,767%, baseando a proporção estimada na população no estudo de Drapeau et al. (2007), que aponta ISC’s frequentes em 3,03% das intervenções cirúrgicas em cirurgia plástica.
Resultado
A partir da análise retrospectiva de 362 prontuários de pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos pelo Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), observou-se uma proporção de 8 infecções de sítio cirúrgico (ISC) (2,21%), definidas como infecções no local de intervenção diagnosticadas até 30 dias de pós-operatório para intervenções sem implantes, e 1 ano para intervenções com implantes, de acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC, 2022). A partir dessa definição e critérios para ISC, 1 paciente acometido por infecção no local de intervenção com 40 dias de pós-operatório foi considerado não acometido de acordo com a definição e critérios de ISC referenciados (CDC, 2022). Ademais, dentre as 362 intervenções cirúrgicas analisadas, 3 delas (0,83%) eram cirurgias infectadas, portanto totalizaram 359 cirurgias limpas inicialmente.Os resultados são expostos na FIGURA 1.
Nessa conjuntura, excluindo-se as infecções de cirurgias infectadas, adotando uma nova amostra total de 359 pacientes e alterando-se a porcentagem de erro aceitável para 1,775%, observou-se uma proporção de 8 ISC (2,23%) para
351 pacientes não acometidos (97,77%) , o que demonstra que o viés de classificação entre infecções hospitalares e comunitárias pode impactar significativamente os resultados (FIGURA 2).
Em relação à frequência de comorbidades e fatores de risco associados aos pacientes acometidos por ISC, a comorbidade mais frequente foi a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), acometendo 4 dos 8 pacientes que desenvolveram ISC. Contudo, no geral, 3 dos 8 pacientes não possuíam nenhuma comorbidade. A distribuição da frequência de aparecimento de comorbidades e fatores de risco associados aos diagnósticos de ISC podem ser observadas na FIGURA 3.
No que se refere ao período entre a intervenção cirúrgica e o diagnóstico de ISC, são expostos na FIGURA 4 o tempo em dias decorridos desde o procedimento cirúrgico à consulta em que as ISC’s foram registradas nos prontuários. Observou-se que, em média, os diagnósticos de ISC foram feitos por volta do 16° dia de pós-operatório.
Discussão
A incidência de infecção do sítio cirúrgico (ISC) em cirurgia plástica varia significativamente dependendo do tipo de procedimento, medidas preventivas adotadas e características específicas dos pacientes7. Estudos recentes têm abordado essa questão crucial, fornecendo insights valiosos para entender os fatores de risco e estratégias de prevenção associadas a essas infecções.
Diversos fatores influenciam a incidência de ISC em cirurgia plástica. Por exemplo, um estudo destacou que a reconstrução mamária após mastectomia apresenta taxas de ISC que variam de acordo com o tipo de reconstrução e técnicas de fechamento de ferida utilizadas. Procedimentos que envolvem a implantação de próteses ou enxertos cutâneos também estão associados a um risco aumentado de ISC, devido à possibilidade de colonização bacteriana nesses materiais8,9.
Além disso, a implementação de medidas preventivas desempenha um papel crucial na redução da incidência de ISC. Estudos têm demonstrado que a administração adequada de antibioticoterapia profilática antes da cirurgia pode significativamente reduzir o risco de infecção . Da mesma forma, o uso de terapia de pressão negativa e técnicas de irrigação com solução salina mostraram-se eficazes na prevenção de ISC em diversos procedimentos de reconstrução e dermatoplastia 10,11.
As características do paciente também desempenham um papel importante. Pacientes com comorbidades como diabetes mellitus, obesidade ou tabagismo têm um risco aumentado de desenvolver ISC devido à comprometimento da cicatrização de feridas e imunidade reduzida 12. Além disso, o tempo de internação e exposição a ambientes hospitalares podem aumentar o risco de infecções nosocomiais, incluindo ISC.
É essencial reconhecer que a definição e métodos de diagnóstico de ISC variam entre os estudos, o que pode influenciar as taxas relatadas. Estudos mais recentes têm adotado critérios padronizados para diagnosticar ISC, como os estabelecidos pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), visando uma comparação mais precisa entre diferentes estudos .
Em síntese, a incidência de ISC em cirurgia plástica é influenciada por uma interação complexa de fatores procedurais, preventivos e do perfil do paciente. Avanços na compreensão dos mecanismos de infecção e na implementação de protocolos de prevenção têm contribuído para reduzir essas complicações, destacando a importância contínua da vigilância e do aprimoramento das práticas clínicas para melhorar os resultados pós-operatórios em cirurgia plástica.
Conclusão
A relevância deste estudo prospectivo no serviço de cirurgia plástica do HUJF é evidente diante da persistente preocupação com infecções do sítio cirúrgico (ISC), conforme discutido na literatura. Investigando especificamente essa incidência localmente, contribuímos para uma compreensão precisa dos fatores de risco e das práticas influenciadoras dessas complicações. Nossos achados podem informar diretamente estratégias de prevenção e manejo, potencialmente melhorando resultados clínicos e reduzindo custos.
A incidência observada de ISC no HUJF, de 2,21%, reforça essa preocupação, embora menor que em estudos globais, indica a relevância contínua da vigilância e de estratégias preventivas.
Comparativamente, estudos mencionam taxas de ISC até 5% em cirurgia plástica estética e até 15% em procedimentos reconstrutivos complexos globalmente. Este estudo destaca a importância de contextos locais na determinação de fatores de risco específicos e na eficácia das medidas preventivas. A predominância de hipertensão arterial sistêmica entre os pacientes afetados sugere um foco potencial para intervenções preventivas específicas.
ISC não apenas aumentam custos hospitalares e tempo de internação, mas também comprometem qualidade de vida pós-operatória. Uma abordagem retrospectiva oferece insights sobre a eficácia das medidas preventivas no HUJF, promovendo uma prática baseada em evidências e adaptada localmente. Assim, este estudo contribui para o conhecimento científico e impacta positivamente a qualidade do cuidado em cirurgia plástica na instituição.
Referências
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Palavras Chave
Infecção do Sítio Cirúrgico; cirurgia plástica; Infecção Hospitalar
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
HOSPITAL UNIVERSITARIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - Minas Gerais - Brasil
Autores
CRISTIANO ALVES DE SOUZA, LARISSA SILVA LEITÃO DARODA, MARCELO FILIPE ANDRADE BONIFÁCIO, CLAUDIA YANINA GARCIA TORREZ, BRUNO PORTES MOREIRA, RODRIGO FERREIRA TOLEDO