60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

REVISAO DE TECNICAS DE ONFALOPLASTIA EM ABDOMINOPLASTIA

Resumo

Na literatura médica existem inúmeros tipos de umbigo que podem ser encontrados na população em geral.
Foram descritas diversas técnicas de onfaloplastia em que tem seu tamanho, formato, localização, e posicionamento da cicatriz como os principais itens discutidos durante a confecção do umbigo considerado ideal. No entanto, não há estudos suficientes que indiquem o formato do umbigo ideal, pois varia de acordo com o gênero, cultura e conceito de beleza inerente a cada indivíduo. Neste estudo foi possível avaliar os índices de satisfação e complicações técnicas descritas entre 2011 e 2024 de onfaloplastia em abdominoplastias.

Introdução

A abdominoplastia é considerada um dos procedimentos estéticos mais realizados na cirurgia plástica e tem o umbigo como uma das características mais importantes para um resultado satisfatório.
O umbigo é a única cicatriz considerada normal no corpo humano e sua ausência ou distorção pode ser motivo de insatisfação no pós-operatório.
Em sua maioria, o umbigo considerado atraente ou ideal é descrito como pequeno, orientado verticalmente, com profundidade proporcional ao tecido adiposo circunjacente, com leve cobertura na parte superior e , principalmente, alinhado a expectativa do paciente. ¹ ²
Dentre as técnicas que podem ser empregadas, temos técnicas circulares, ovais, estrela de “Mercedes”, retângulos, escudo, losangos, trevos, elipses, cruzes, símbolo de infinito, duplo “V”, além de técnicas de neo-onfaloplastias úteis em casos de pacientes após grandes perdas ponderais. ³

Objetivo

O objetivo do presente estudo é realizar uma revisão de técnicas de onfaloplastias que podem ser empregadas associadas a abdominoplastia, como uma forma de evitar estigmas relacionados a esse procedimento e, ao mesmo tempo, garantir naturalidade com mínimas complicações e alta satisfação dos pacientes.

Método

Para o desenvolvimento desta revisão integrativa optamos pela proposta de Ganong (1987), obedecendo- se às seguintes etapas: 1) identificação da questão norteadora, seguida pela busca dos descritores ou palavras-chaves; 2) determinação dos critérios de inclusão ou exclusão da pesquisa em bases de dados online; 3) categorização dos estudos, sumarizando e organizando as informações relevantes; 4) avaliação dos estudos pela análise crítica dos dados extraídos; 5) discussão e interpretação dos resultados examinados, contextualizando o conhecimento teórico e avaliando quanto sua aplicabilidade; 6) apresentação da revisão integrativa e síntese do conhecimento de cada artigo revisado de maneira sucinta e sistematizada.
No presente estudo a questão norteadora da revisão integrativa foi: quais as técnicas mais realizadas de onfaloplastia associadas a cirurgia de abdominoplastia, assim como suas complicações e resultados estéticos? Foram consultadas as bases de dados LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), a biblioteca SciELO (Scientific Electronic Library on Line) e PubMed (National Center for Biotechnology Information - NCBI, U.S. National Library of Medicine), Google Acadêmico, incluindo-se os estudos que abordaram a temática de onfaloplastias, excluindo-se os casos de neo-onfaloplastias, publicados desde 2011 a 2024, independente do idioma de publicação. Foram utilizados os seguintes descritores controlados para a busca e também utilizados como palavras-chave: onfaloplastia (onphaloplasty); abdominoplastia (abdominoplasty); cirurgia plástica (plastic surgic).

Resultado

Foi observado ao longo de seis meses de pós-operatório, que as técnicas oval vertical, U alargado e triângulo invertido apresentaram maiores taxas de hipertrofia e estenose em comparação ao Y e V invertido. Ainda, o índice de satisfação das pacientes foi maior nos casos de Y seguidos pelo V invertido e triângulo invertido.
A técnica triangular proporcionou maior satisfação às pacientes, em relação à incisão curva de concavidade superior que foi relacionado a umbigo largo e foi descrito como o fator mais relacionado à insatisfação das pacientes.
A técnica em forma de cruz ou estrela apresenta menores índices de estenose junto a técnica do losango, vertical com fuso de pele e triângulo isósceles que mostram boa aceitação pelas pacientes e baixo número de complicações.
A técnica do “infinito” apresentou poucas complicações. É uma técnica intermediária entre as circulares e não circulares, também boa opção comparada as técnicas que se assemelham a forma circular.

Discussão

A cicatriz umbilical caracteriza-se, em sua maioria, por aspecto mais arredondado, profundo na parte superior, limitado pelo rodete cutâneo que encobre levemente a cicatriz. Em sua porção central, pronuncia-se o mamilo ou mamelão ( vestígio da cicatriz do cordão umbilical) e circundando-o, se forma o sulco umbilical. ⁴
Localiza-se na parede abdominal anterior, distante 18 a 23cm da comissura vulvar ao nível das cristas ilíacas superiores ou L3 e L4 e pode ter variação de 4cm acima ou 2cm abaixo desta linha. Possui diâmetro médio de 1,5cm a 2 cm.
Em mulheres magras pode ser mais oval, vertical e em sua região periumbilical caracteriza-se por aspecto deprimido devido a menor quantidade de tecido adiposo. Por sua vez, em pacientes obesas, são mais alargados e com maior quantidade gordura. ⁵
No século XIX na França, o umbigo era removido junto ao retalho. Em 1090 Weinhold Zentralb teve a iniciativa de manter o umbigo nas cirurgias de dermolipectomias. Em 1921, Frist realizou a primeira transposição de umbigo em abdominoplastia utilizando formas circulares. Em 1931 Flesch, Thebesius e Weisheimer optaram pelo triângulo de pele no umbigo. Vernon, em 1957, retornou às formas circulares, mas resultou em muitos casos de estenose. Pitanguy, em 1967, realizou uma incisão horizontal de concavidade cranial. Em 1976, Avelar publicou a técnica de estrela de três pontos, visando evitar retrações cicatriciais, com umbigo ressecado em forma triangular e o retalho abdominal incisado em forma de “Y. Outras técnicas foram propostas por lopez-Tallaj & Gervais em 2001, Saldanha et al. em 2003, D’Assumpção em 2005 e Mello & Yoshino em 2009. ⁶ ⁷ ⁸
Em 2009, Rosique Et al. publicou um estudo realizado durante dezenove meses que comparou seis técnicas e resultados de onfaloplastias. Foram avaliados 75 pacientes, divididos em dois grupos separados por técnicas circulares(38) que consistiam em técnica oval vertical de 1,5cm de altura por 1,0 cm de largura; U alargado de 0,6cm de altura por 1,5cm de largura com pequena ressecção de pele na borda inferior; oval horizontal de 1cm de altura por 1,5cm de largura. O segundo grupo (37) era composto por três técnicas não-circulares caracterizado por Y (1,5 de altura por 1cm de largura); V invertido (1,5 de altura por 1,2cm de largura) ; triângulo invertido (1,5cm cada lado). Os resultados foram avaliados com trinta dias, dois, quatro e seis meses de pós operatório e analisados os índices em relação a hipertrofia, estenose, satisfação do paciente e do cirurgião. Foi evidenciado que a incidência de hipertrofia e estenose ocorre independente da técnica utilizada, no entanto, as técnicas circulares apresentam maior risco de estenose . O grupo que utilizou técnicas não-circulares apresentou índice de satisfação mais alto comparado ao grupo que utilizou técnicas circulares. ⁹
Pouco tempo depois,em 2011, uma técnica intermediária entre circulares e não- circulares foi proposta por Furtado, que publicou um trabalho realizado com 418 pacientes avaliados após realizar o umbigo em formato de losango de 2,5cm por 1,5cm com as pontas discretamente curvas com marcação do infinito em retalho abdominal com comprimento de 2cm e largura de 0,5cm resultando em cicatriz com aspecto final elíptico e fusiforme com aproximadamente 2x1cm. Essa técnica demonstrou 91 % de satisfação dos pacientes, baixas taxas de complicações como discências paricais em 2% dos casos, estenoses em 1,5 % e quelóides em 1% dos casos. Houve um caso de necrose do umbigo , associado a correção de hérnia incisional realizada pelo cirurgião geral com provável estrangulamento do pedículo vascular. ¹⁰
Dias filho, em 2014 comparou três grupos de pacientes formado por 42 pacientes. O grupo O consistia em um umbigo confeccionado oval e retalho abdominal com incisão em elipse vertical; o grupo U o umbigo um pouco vertical e retalho em concavidade superior que evidenciou alargamento do umbigo em alguns casos ; o grupo Y o umbigo foi incisado em forma triangular e retalho em Y que demonstrou maior índice de satisfação comparado a técnica em concavidade superior. Infelizmente, não houve diferença em relação a satisfação do paciente ao comparar os três grupos. ¹¹
No mesmo ano, Castro, avaliou cinco pacientes submetidos a técnica em estrela e losango e a primeira mostrou ter menor taxa de complicações. ¹²
Em 2017, Pedroso et al. publicou uma análise de 128 pacientes com grau de satisfação de 88,8% dos casos submetidos a técnica que se baseava uma incisão linear vertical transcutânea sem retirada de fuso de pele e com mínimo desengorduramento com fixação em ponto na porção lateral do pedículo umbilical e transfixante. Dentre as complicações relatadas estão 4 casos de cicatriz hipertrófica, com 2 evoluindo para estenose umbilical , 2 casos de deiscências e 1 caso de necrose umbilical estenose em 2. ¹³
Em 2018 Guimarães Et al., publicou outra técnica com o nome de Y-V realizada em 88 pacientes com média de idade de 43 anos em que é realizada incisãoo arredondada durante o descolamento inicial do umbigo que , posteriormente, é confeccionado uma forma em “Y” e , após fixado, é confeccionada uma incisão em “Y” no retalho abdominal de 1 a 1,5cm de comprimento por 0,5 a 1cm de largura e retirados os dois “biquinhos” a fim de evitar estenose. Essa técnica mostrou-se uma opção entre as ténicas não-circulares , eficaz pois diminui o risco de estenose cicatricial , comparado com técnicas circulares, além de fácil execução. Neste estudo em específico foi identificado apenas um caso de estenose umbilical (1,13%), com total de 11,34% de complicações. ¹⁴
Campos em 2019 descreveu a técnica em triângulo isósceles de 2cm de base superior e arestas medindo 2,5cm associado a incisão retilínea no retalho abdominal com retirada de triângulo isósceles de 0,5cm. Essa técnica evidenciou satisfação de 85,5% . ¹⁵

Conclusão

Ao analisar a descrição dessas técnicas, as complicações mais observadas foram estenose, hipertrofia da cicatriz e, em menor incidência, hematoma e necrose. Dentre os principais métodos de tratamento, é descrito órtese de silicone, corticóide intralesional e ressecção em casos selecionados.
Apesar de não existir técnica ideal que possibilite ser realizada em todos os pacientes e resultar em alto nível de satisfação com baixos índices de complicações, é essencial observar as características individuais de cada paciente durante a escolha da melhor técnica.
É necessário um maior número de estudos que demonstrem a técnica mais indicada de acordo com o resultado e satisfação do paciente. De qualquer forma, foi evidenciado que as técnicas que fogem da forma circular, demonstram menores taxas de complicações como estenose e retração cicatricial.
Portanto, é indispensável uma análise criteriosa e individual para estabelecer o melhor tamanho e formato a ser utilizado de acordo com o perfil de cada paciente a fim de preservar ao máximo o aspecto natural do umbigo nas cirurgias que envolvem abdominoplastias.

Referências

1-Tavares Filho JM, Oliveira DF, Franco TR. Umbilico e Neoumbilicoplastias. In: ed. Lima Júnior EM. Tratado de Cirurgia Plástica após Grandes Perdas Ponderais. São Paulo: Atheneu, 2010.
2-Abdominoplastia: novos conceitos e tratamentos na mesma classificação de 25 anos. In: ed. Mélega JM, Viterbo F, Mendes FH. Cirurgia plástica: princípios e atualidades. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.Nogueira DS. Neo-onfaloplastia de rotina em abdominoplastias. Rev. Bras Cir Plást. 2008;23(3):207-13.
3-. Abreu JA. Abdominoplastias: neo-onfaloplastia sem cicatriz e sem excisão de gordura. Rev Bras Cir Plást. 2010;25(3):499-503.
4- Jaimovich CA, Mazzarone F, Parra JF, Pitanguy I. Semiologia da parede abdominal: seu valor no planejamento das abdominoplastias. Rev Bras Cir Plast. 1999;14(3):21-50.
5- Malic CC, Spyrou GE, Hough M, Fourie L. Patient satisfaction with two different methods of umbilicoplasty. Plast Reconstr Surg. 2007;119(1):357-61.
6- Vernon S. Umbilical transplantation upward and abdominal contouring in lipectomy. Am J Surg. 1957;94(3):490-2. PMID: 13458618 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/0002-9610(57)90807-3
7-Avelar JM. Cicatriz umbilical: da sua importância e da técnica de confecção nas abdominoplastias. Rev Bras Cir. 1979;69(1/2):41-52.
8- Saldanha OR, De Souza Pinto EB, Mattos WN Jr, Pazetti CE, Lopes Bello EM, Rojas Y, et al. Lipoabdominoplasty with selective and safe undermining. Aesthetic Plast Surg. 2003;27(4):322-7.
9-Rosique MJF, Rosique RG, Lee FDI, Kawakami H, Glattstein N, Mélega JM. Estudo comparativo entre técnicas de onfaloplastia. Rev. Bras. Cir. Plást.2009;24(1):47-51
10- Isaac Rocha Furtado. Onfaloplastia: técnica do infinito.Rev. Bras. Cir. Plást.2011;26(2).
11- Dias Filho AV, Valadão MGC, Guerra Filho TR, Moura RMG. Onfaloplastia: estudo comparativo de técnicas. Rev. Bras. Cir. Plást.2014;29(2):253-258
12- Castro DPR, Saldanha OR, Pinto EBS, Albuquerque FM, Moia SMS. Avaliação estética da cicatriz umbilical em duas técnicas de onfaloplastia. Rev. Bras. Cir. Plást.2014;29(2):248-252
13- Pedroso DB, Soares DAS, Cammarota MC, Daher LMC, Galdino MCA, Santos GC, et al. Umbilicoplasty by vertical incision: description of the technique and assessment of satisfaction. Rev. Bras. Cir. Plást.2017;32(4):534-540
14-Guimarães VHM, Guimarães VA, Gonçalves FA, Carvalho PCC. Onfaloplastia: técnica Y/V. Rev. Bras. Cir. Plást.2018;33(3):355-363
15-Campo R, Campos BVBL. Onfaloplastia em triângulo isósceles e com dupla fixação na abdominoplastia. Rev. Bras. Cir. Plást.2019;34(1):38-44

Palavras Chave

onfaloplastia; Abdominoplastia; cirurgia plástica

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

hospital da plástica - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

DAYANE ADENIR SHIZUKO TAKATA RIBEIRO, ALINE CARRER BORTOLINI, LETÍCIA SAYUMI MORIKAWA, LUISA CONCESSA DE ANDRADE