60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

AUTOENXERTIA DE PELE TOTAL NO TRATAMENTO DE ECTROPIO CICATRICIAL

Resumo

O ectrópio cicatricial decorre da presença de uma cicatriz linear ou difusa na lamela anterior da pálpebra. As causas mais comuns são os traumas lacerantes diretos, queimaduras térmicas, exposição solar crônica e pós-blefaroplastia. O caso clínico em questão, trata-se de ectrópio cicatricial bilateral pós-blefaroplastia inferior.

O tratamento implementado foi ressecção transconjuntival sob a técnica de Kuhnt Szymanowski, cantopexia a Flowers e autoenxertia de pele total cuja área doadora foi a região retroauricular. Paciente apresentou integração completa do enxerto além de um resultado estético satisfatório, demonstrando o benefício da autoenxertia como opção de tratamento para os casos em que o ectrópio cicatricial tenha sido decorrente de retirada de pele em excesso. O objetivo do tratamento é evitar as complicações oculares (exposição da conjuntiva tarsal, epífora e conjuntivite crônica) além de melhora estética/estrutural.

Introdução

linhagem germinativa do gene supressor TP53 que é expresso no cromossomo 17p13.1, apresentando um padrão autossômico dominante. ¹
O gene supressor tumoral p53, sob condições de estresse celular promove apoptose e reparo do DNA, porém quando essa proteína apresenta uma mutação, ocorre uma proliferação celular anormal e progressão tumoral. Essa alteração genética foi encontrada em vários tecidos cancerígenos, associada à perda funcional e ao crescimento tumoral.²
A SLF é uma doença genética rara, há estimativa de que até então 1000 famílias tenham sido afetadas em 172 países diferentes. É caracterizada pelo aparecimento precoce de múltiplos tumores, principalmente sarcomas de tecidos moles, osteosarcomas, tumores de mama, tumores cerebrais, carcinomas adrenocorticais e leucemia.³ A cirurgia plástica reparadora tem grande importância no tratamento dos pacientes acometidos pela síndrome uma vez que as recidivas tumorais tornam as feridas mais complexas, sendo o uso de retalhos musculares à distância uma alternativa considerável de tratamento.

Objetivo

Relatar caso clínico de paciente com histórico de Síndrome de Li-Fraumeni com mutação no gene p53 e múltiplas exéreses de sarcoma recidivado e demonstrar a importância da cirurgia plástica na reparação das feridas complexas decorrentes das ressecções tumorais.

Método

Relato de caso clínico com busca de prontuário em base de dados eletrônicos associado a revisão literária em banco de dados como Scielo e Pubmed. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: ectrópio cicatricial, blefaroplastia e autoenxertia. Aplicado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com a paciente em questão, em consonância com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.

Resultado

Trata-se de caso clínico de paciente do sexo feminino, 69 anos, sem comorbidades, referenciada de outro serviço. História pregressa de ritidoplastia associada a blefaroplastia superior há 20 anos com boa evolução. Há 1 ano, realizou blefaroplastia superior secundária e inferior primária. Após a cirurgia, evoluiu com ectrópio cicatricial bilateral inferior, e procurou atendimento referindo que no pré-operatório apresentou queixa de epífora, sendo realizada desobstrução de punctus sem excesso, e em seguida, foi realizada a blefaroplastia que resultou em ectrópio cicatricial.

No 10° dia de pós-operatório da blefaroplastia superior secundária e inferior primária, paciente apresentava blefarite, hiperemia ocular, edema de mucosa, aumento horizontal da pálpebra inferior, eversão completa da lamela inferior, competência do ligamento cantal lateral e distanciamento dos punctus lacrimais. Paciente negava queixas de ardência ou dor na ocasião. Iniciou tratamento clínico com uso de colírios e pomadas.

Diante do quadro clínico, com impacto na qualidade de vida, abalo emocional, evidente falta de pele e blefarite, foi optado por tratamento não conservador. Paciente foi submetida a liberação cicatricial, encurtamento horizontal da pálpebra inferior por meio de ressecção transconjuntival lateral sob a técnica de Kuhnt-Szymanowsk associada a cantopexia a Flowers. A área cruenta originada foi acomodada por meio de autoenxertia de pele total cuja área doadora foi a região retroauricular. Procedimento finalizado, sem intercorrências e realizado curativo de Brown que foi retirado no sétimo pós-operatório. Houve pega de 100% do enxerto de pele e segue em acompanhamento, apresentando resultado estético satisfatório.

Discussão

Diante do quadro clínico de ectrópio cicatricial inferior bilateral relatado, com impacto na qualidade de vida, abalo emocional e blefarite, foi optado por tratamento não conservador após identificação de escassez de pele como causa da retração. O objetivo do tratamento é evitar complicações oculares como exposição da conjuntiva tarsal, epífora e conjuntivite crônica, além da melhora estética/estrutural.

O tratamento inicial pode ser manejado com colírios com vista a alívio dos sintomas. No entanto, o preceito básico de correção definitiva é por meio de cirurgias que permitam a liberação da retração cutânea seguido de cobertura cutânea do espaço cruento criado como a cantopexia, cantoplastia com retalho de tarso e perfuração lateral da órbita, com ou sem recrutamento do orbicular e terço médio da face.

Nos casos em que ocorra deficiência de pele, pode-se lançar mão de autoenxertia. Nesse caso, vale ressaltar, que as áreas doadoras que mais se assemelham à espessura e coloração da pálpebra são as regiões palpebrais homo ou contralateral, retroauricular e supraclavicular. Ressalta-se a importância de superestimar a área do enxerto em relação às dimensões do defeito em 20-30% de forma a se evitar uma retração secundária.

Por fim, os fatores que contribuem para o sucesso do tratamento cirúrgico são a presença ou não de flacidez tarso ligamentar, a necessidade de suporte cartilaginoso perpendicular ao tarso, diminuindo a taxa de recidiva, e a utilização de áreas doadoras, como a região auricular, principalmente escafa, ou concha, e o septo nasal, que é mais rígida.

Conclusão

O ectrópio possui uma etiopatogenia multifatorial, sendo muito associado a blefaroplastia, devido a complicações oculares, como maior exposição da conjuntiva tarsal e causar epífora e conjuntivite. Seu tratamento inicial pode ser manejado com colírios, para o alívio de sintomas, mas a sua correção definitiva em alguns casos deverá ser manejado de forma cirúrgica, como por exemplo ressecção transconjuntival, cantopexia e a cantoplastia. Nos casos em que a retração cicatricial decorre de escassez de pele, o reparo pode ser realizado por meio de enxertos ou retalhos de pele. Deve-se sempre individualizar o tratamento, levando sempre em consideração as condições e necessidades locais.
A paciente do caso, realizou uma cantopexia com enxerto de pele total da área doadora retroauricular. O enxerto de pele total se apresentou com excelente opção terapêutica para o caso com resultado estético e funcional satisfatório.

Referências

1- MÉLEGA, J. M. Cirurgia plástica: fundamentos e arte - Medsi. Rio de Janeiro, 2002.
2- BASILE, F. V. D. Correção das retrações palpebrais secundárias à blefaroplastia. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 26 (2), p. 228-242. Maio, 2011.
3- JÚNIOR, A. C, RODRIGUES-FILHO, S. A. S. Blefaroplastia ampliada: tratando dois terços superiores da face. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 36 (3), p. 287-295. Julho, 2021.
4- França VP, Bongiovanni CS, Soares EJC, Bessa H, Caldato R. Ectrópio. In: Soares EJC, Moura EM, Gonçalves JOR. Cirurgia plástica ocular. São Paulo: Roca; 1997. p.153-70.

Palavras Chave

Ectrópio cicatricial; Blefaroplastia; autoenxertia

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Regional da Asa Norte - Distrito Federal - Brasil, Hospital Universitário de Brasília - Distrito Federal - Brasil

Autores

THAMARA DE OLIVEIRA VASCONCELOS, LÚCIO DA SILVA MARQUES DA SILVA, AUGUSTO RIBEIRO DE SOUSA CARDOSO , JOÃO PEDRO SANTANA DE LACERDA MARIZ, JOVITA MARIA RAFAEL BATISTA DE ALBUQUERQUE ESPÍNDOLA, ANA BEATRIZ QUEIROZ TELES