60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

Avaliação da Eficácia de Técnicas de Reconstrução de Pálpebras Após Excisão de Câncer de Pele Não Melanoma - Revisão Sistemática da Literatura

Resumo

Introdução: O câncer de pele é o mais comum no Brasil, com destaque para os subtipos carcinoma basocelular e espinocelular, totalizando cerca de 180 mil novos casos previstos entre 2020 e 2022. Áreas expostas ao sol, como cabeça e pescoço, são mais afetadas e frequentemente necessitam de excisão cirúrgica. Na região palpebral, técnicas de retalho como Tripier, Hughes e Mustardé são utilizadas para melhores resultados estéticos e funcionais.
Objetivo: revisar sistematicamente a literatura sobre técnicas e uso de retalhos para reconstrução das pálpebras após a excisão de câncer de pele não melanoma, focando em resultados funcionais e estéticos.
Métodos: Para a revisão da literatura, foi realizada uma pesquisa no Medline usando descritores específicos para várias técnicas de retalhos palpebrais, abrangendo os anos de 2005 a 2024. Após aplicar critérios de exclusão, 20 artigos foram selecionados para a revisão sistemática. Os resultados foram organizados com base na análise descritiva, taxa de satisfação e complicações dos procedimentos avaliados.
Resultados: As técnicas de retalho de Frickie, Hughes e Tripier mostraram os maiores níveis de satisfação. No entanto, a técnica de Tripier apresentou 47% de complicações pós-operatórias, enquanto Cuttler Beard, Frickie, Tenzel e Hughes variaram entre 30 a 40%, e Mustardé apresentou 23%. Relacionando satisfação e complicações, a técnica de Frickie obteve os melhores resultados, com 30% de complicações e 100% de satisfação.
Discussão: Este estudo destaca múltiplas técnicas de reconstrução palpebral com potenciais complicações como ectrópio e retração cicatricial, que devem ser tratadas pelo cirurgião plástico. Apesar das complicações, os altos níveis de satisfação indicam que a funcionalidade do retalho é priorizada sobre a estética pelos pacientes. No entanto, a pesquisa é limitada pela escassez de artigos com dados comparáveis de satisfação e complicações cirúrgicas.
Conclusão: O estudo destaca a eficácia da técnica de Frickie com alta satisfação e menos complicações pós-operatórias, enquanto a técnica de Mustardé teve a menor taxa de complicações (aproximadamente 23%) e Tripier a maior (cerca de 47%). Complicações como ectrópio, entrópio e epífora foram frequentes, possivelmente influenciadas por cuidados pós-operatórios inadequados, deiscência de suturas e infecções.

Introdução

A neoplasia mais frequente, no Brasil, é o câncer de pele, apresentando o carcinoma basocelular (CBC) e o espinocelular (CEC) como os subtipos mais recorrentes. Ademais, tem-se uma estimativa de aproximadamente 180 mil novos casos durante os anos de 2020 a 2022¹. Por conseguinte, áreas com maior fotodano, como cabeça e pescoço, tendem a desenvolver neoplasias que podem necessitar de excisão cirúrgica. Para cada região da face, há muitas técnicas cirúrgicas que devem ser aplicadas para melhor resultados, tanto estéticos quanto funcionais. Na região palpebral, algumas técnicas de retalho são mais utilizadas, como, o retalho de Tripier, de Hughes, de Frickie, de Tenzel, de Cuttler Beard e de Mustardé.

Objetivo

Este artigo tem como objetivo revisar sistematicamente a literatura científica existente sobre as diferentes técnicas e uso de retalhos para reconstrução funcional e estética das pálpebras após excisão cirúrgica de câncer de pele não melanoma.

Método

Para presente revisão da literatura foi realizada uma pesquisa na bases de dados eletrônica Health Information from the National Library of Medicine (Medline), com os seguintes descritores: “tripier flap eyelid”, “fricke flap eyelid”, “mustarde flap eyelid”, “hughes flap eyelid”, “tenzel flap eyelid” e “Cutler-Beard flap eyelid”, entre os anos de 2005 a 2024. Inicialmente, foram encontrados 218 estudos. Os critérios de exclusão aplicados a esta amostra de artigos científicos foram: estudos feitos estritamente com animais, revisões bibliográficas e sistemáticas, livros e documentos, relatos de reconstrução de pálpebra por lesão traumática e estudos que não fornecessem dados comparativos de efetividade das técnicas de interesse. Foram excluídos 118 artigos pela leitura do título e/ou resumo. Seguindo, entre os selecionados, foi feita uma leitura integral dos textos visando selecionar os pertinentes para a revisão sistemática. Destes 67 foram excluídos após essa criteriosa classificação e 13 foram retirados por estarem indisponíveis para acesso. Portanto, utilizou-se 20 artigos para a revisão sistemática desse assunto. Os resultados foram organizados segundo a análise descritiva e prevalência da taxa de satisfação e complicações dos procedimentos avaliados.

Resultado

Os níveis de satisfação foram mais satisfatórios na técnica de retalho de Frickie, Hughes e Tripier. Entretanto, os dados de erros, precoce e tardios, demonstraram que essa a técnica de Tripier apresentou cerca de 47% dos pacientes ficavam com algumas complicação pós-operatória, a técnica de Cuttler Beard, Frickie, Tenzel e Hughes ficaram entre 30 a 40 %, enquanto a técnica de Mustardé apresentou cerca de 23%, que evidencia ser uma técnica mais precisa para reconstruir pálpebras após excisão de câncer de pele não melanoma. Ao relacionar a satisfação e a porcentagem de erros por número total de pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico, nota-se que a técnica de Frickie apresentou os melhores resultados, com 30% de complicações e 100% de satisfação.

Discussão

Esse trabalho evidencia que há inúmeras técnicas com capacidade de reconstruir a pálpebra, apresentando possíveis complicações, sendo as principais o ectrópio e a retração do retalho, que devem ser corrigidas se possível pelo cirurgião plástico. Ademais, os níveis de satisfação demonstram que as complicações são pouco impactantes para os pacientes, já que a funcionalidade do retalho se sobrepõe à estética. Porém, por se ter um pequeno número de artigos que apresentavam valores de satisfação e de complicações cirúrgicas, a pesquisa limita-se por apresentar poucos dados que tenham os mesmos valores de referência.

Conclusão

Este estudo evidencia a eficácia da técnica de Frickie, que apresenta níveis de satisfação elevados e porcentagem menor de complicações pós-operatórias. Vale ressaltar que a técnica de Mustardé foi a que menos apresentou complicações pós-operatórias, 23% aproximadamente, enquanto a de Tripier foi a que mais apresentou, cerca de 47%. Além disso, as alterações da pálpebra, como o ectrópio e o entrópio, são as complicações mais frequentes, seguidamente da epífora. Ademais, entende-se que a diferença entre os resultados para cada tipo de técnica pode ser influenciado por cuidados pós-operatórios inadequados, deiscência de suturas e infecções imediatas.

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Palavras Chave

Neoplasias cutâneas; retalhos cirúrgicos

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Santa Casa de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

FLÁVIA CRISTINA MARAFON, FRANCINE RODRIGUES PHILIPPSEN, RICARDO VITIELLO SCHRAMM, VINICIUS KAYSER, YASMIN DE FRANÇA, ISADORA FROIS OURIQUE