Dados do Trabalho
Título
AVALIAÇAO DO CONHECIMENTO DE MEDICOS RESIDENTES NO PRIMEIRO ATENDIMENTO AO QUEIMADO
Resumo
As queimaduras são lesões graves que resultam em significativa morbidade e mortalidade. No Brasil, há cerca de 1 milhão de acidentes com queimaduras por ano, com aproximadamente 100 mil internações hospitalares e 3.454 óbitos em 2020. O atendimento inicial ao paciente queimado é crucial para reduzir a morbimortalidade e mitigar sequelas. No entanto, há uma lacuna no conhecimento sobre o manejo de queimaduras entre profissionais de saúde, especialmente nas unidades de Urgência e Emergência. Estudos revelam que o ensino sobre queimaduras é inadequado nas escolas de medicina. Em um estudo com alunos de medicina britânicos, 70% não receberam treinamento específico sobre queimaduras e 90% não se sentiam confiantes para manejar esses casos. No Brasil, pesquisas indicam que estudantes de medicina têm um conhecimento limitado sobre o tratamento inicial de queimaduras. Este estudo visa avaliar o conhecimento de médicos residentes no primeiro atendimento a pacientes queimados por meio de um questionário específico. Foram incluídos médicos residentes de Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica do Hospital São Paulo (EPM/UNIFESP). O questionário foi aplicado eletronicamente, e os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Dos 72 residentes convidados, 52 responderam ao questionário, resultando em uma taxa de resposta de 72,2%. A média de acertos foi de 78,6%, com a Cirurgia Plástica apresentando melhores resultados (80,3%) em comparação com a Cirurgia Geral (77,7%). As questões com maior taxa de erros trataram de lesão inalatória, escarotomias, queimaduras químicas e queimaduras por ácido fluorídrico. A análise dos resultados mostra um conhecimento satisfatório sobre o manejo inicial de queimaduras entre os residentes, mas destaca a necessidade de melhorias no ensino sobre temas específicos, como lesão inalatória e escarotomias. O estudo sugere que a inclusão de mais treinamento prático e teórico sobre queimaduras no currículo médico pode melhorar significativamente a preparação dos profissionais de saúde para o atendimento a pacientes queimados.
Introdução
As queimaduras são lesões graves, frequentemente resultando em morbidade, mortalidade e impactos significativos no bem-estar das vítimas (SMOLLE et al., 2022). No Brasil, aproximadamente 1 milhão de acidentes por queimaduras ocorrem anualmente, com cerca de 100 mil casos demandando internação hospitalar (SOUZA ALS et al., 2019). Em 2020, houve 3.454 óbitos atribuídos a queimaduras (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA SVS, 2022).
O atendimento inicial ao paciente queimado é crucial para reduzir morbimortalidade e mitigar sequelas físicas, estéticas e psicológicas (GAWRYSZEWKI et al., 2012). No entanto, profissionais de saúde, especialmente em unidades de Urgência e Emergência, frequentemente apresentam deficiências no manejo inicial, devido à formação inadequada (TAY et al., 2013).
Estudos mostram lacunas no ensino médico sobre queimaduras, tanto no Brasil quanto no Reino Unido, onde o treinamento é geralmente insuficiente e superficial (LEMON et al., 2015; EGRO et al., 2014). Avaliações do conhecimento teórico revelam que mudanças curriculares e intervenções educativas direcionadas são necessárias para melhorar a preparação dos profissionais (BALAN et al., 2014).
Esses dados enfatizam a necessidade urgente de melhorar o treinamento médico em queimaduras desde a graduação, visando aprimorar a qualidade do atendimento inicial e, consequentemente, os resultados para as vítimas.
Objetivo
Avaliar o conhecimento de médicos residentes no primeiro atendimento ao paciente vítima de queimadura por meio de questionário específico.
Método
Trata-se de estudo primário, quantitativo, que utiliza um questionário para avaliar o conhecimento de médicos residentes no atendimento inicial a pacientes vítimas de queimaduras. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo e utiliza o Instrumento para Avaliação do Conhecimento de Médicos no Primeiro Atendimento ao Queimado (IACOM-PAQ), desenvolvido com base na metodologia Delphi e na Cartilha para Tratamento de Emergências do Ministério da Saúde (2012). Os participantes são residentes do Hospital São Paulo, EPM/UNIFESP, convidados a participar via link eletrônico após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O questionário inclui blocos para caracterização sociodemográfica e avaliação de conhecimentos sobre atendimento inicial a queimaduras, com 26 perguntas de múltipla escolha. A coleta de dados é feita pelo serviço SurveyMonkey, com controle de respostas por grupo e inclusão na pesquisa apenas após envio completo do questionário. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva.
Resultado
Foram obtidas 52 respostas únicas de um total de 72 residentes convidados, resultando em uma taxa de resposta de 72,2%. A adesão foi maior na Cirurgia Plástica (79,2%) em comparação com a Cirurgia Geral (68,8%). A média de idade dos participantes foi de 27 anos, sendo 57,7% do sexo masculino e 42,3% do sexo feminino. A maioria (88,5%) relatou trabalhar em urgência e emergência, porém apenas 33% tinham experiência prévia no atendimento a pacientes queimados. Dois dos 52 respondentes mencionaram ter conhecimento sobre o Curso de Normatização de Atendimento ao Paciente Queimado (CNNAQ), porém nenhum deles realizou o curso. No que se refere à educação continuada, 80,8% afirmaram participar de cursos e treinamentos, mas, novamente, apenas 2 participantes haviam participado de cursos com enfoque em pacientes vítimas de queimadura.
Quanto ao conhecimento demonstrado no questionário, a média geral de acertos foi de 78,6%. Por especialidade, a Cirurgia Plástica apresentou uma média de 80,3% de acertos, enquanto na Cirurgia Geral foi de 77,7%. Analisando por anos de residência, os resultados variaram: para o primeiro ano de Cirurgia Plástica, a média foi de 77,6%, no segundo ano foi de 82,8%, no terceiro ano foi de 81,5%, e para os recém-egressos foi de 78,3%.
As questões que obtiveram as maiores taxas de erro foram as de número 24 – versando sobre queimadura por ácido fluorídrico – (90,4% de respostas incorretas), 3 – tratando de lesão inalatória – (76,9% de respostas erradas), 22 – abordando escarotomias – (76,9% de respostas erradas) e 23 – questionando sobre queimaduras químicas – (77,7%).
Discussão
O estudo revelou que os residentes avaliados possuem um conhecimento adequado no atendimento inicial a pacientes queimados, com uma média de acertos acima de 75%. Os residentes de Cirurgia Plástica apresentaram desempenho superior em comparação aos da Cirurgia Geral, possivelmente devido ao estágio de duração superior na Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ/EPM). Contudo, foram identificadas dificuldades significativas em tópicos cruciais, como lesão inalatória (23,1% de acertos), escarotomias (23,1%), queimaduras químicas (42,3%) e queimaduras por ácido fluorídrico (9,6%).
A taxa de resposta ao questionário foi satisfatória, atingindo 72,2%, mas o método de coleta eletrônica apresentou limitações, como a possibilidade de consulta a fontes externas, o que pode comprometer a validade das respostas. Sugere-se a aplicação presencial do questionário para melhorar a precisão dos dados.
Apesar de o instrumento IACOM-PAQ ainda estar em avaliação de suas propriedades psicométricas e não possuir valores de corte definidos, ele permitiu identificar áreas de conhecimento deficiente entre os residentes. Isso é fundamental para orientar intervenções educacionais e ajustes curriculares, como a inclusão de aulas e cursos específicos sobre temas com alta taxa de erro. A aplicação do IACOM-PAQ revelou-se útil para fornecer subsídios para a melhoria do atendimento inicial aos pacientes queimados, destacando a importância de educação continuada e treinamento específico para profissionais de saúde nessa área crítica.
Conclusão
Os resultados deste estudo permitiram avaliar de forma objetiva o conhecimento de residentes da área cirúrgica sobre o atendimento inicial a pacientes queimados. Contudo, a análise detalhada revelou lacunas importantes em áreas críticas, como lesão inalatória, escarotomias, queimaduras químicas e queimaduras por ácido fluorídrico. Essas deficiências destacam a necessidade urgente de intervenções educativas direcionadas e ajustes no currículo de formação dos residentes.
A comparação entre os residentes de Cirurgia Plástica e Cirurgia Geral sugere que um estágio mais prolongado em unidades especializadas pode melhorar significativamente o conhecimento e a competência no manejo de queimaduras. A aplicação do questionário de forma presencial em futuros estudos pode aprimorar a coleta de dados e fornecer uma avaliação mais precisa das competências dos profissionais.
Além disso, o instrumento IACOM-PAQ, apesar de estar em fase de avaliação de suas propriedades psicométricas, mostrou-se eficaz para identificar áreas de melhoria no conhecimento dos residentes. A utilização deste instrumento pode ser expandida para outras instituições de ensino e unidades de saúde, com o objetivo de padronizar e aprimorar o treinamento no atendimento a queimados.
Em suma, este estudo reforça a importância de um treinamento estruturado e contínuo para os profissionais de saúde que atuam no atendimento inicial a queimados, contribuindo para a redução da morbimortalidade e melhorando a qualidade do cuidado prestado a esses pacientes. Investimentos em educação médica específica e a implementação de currículos mais robustos são essenciais para garantir que os futuros profissionais estejam bem preparados para enfrentar os desafios complexos do tratamento de queimaduras.
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Palavras Chave
queimaduras; residentes; conhecimento.
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina - São Paulo - Brasil
Autores
PAULO CESAR GREIMEL DE PAIVA FILHO, MARILIA BAENINGER, ALFREDO GRAGNANI