Dados do Trabalho
Título
EXPERIENCIA DO SERVIÇO DE CIRURGIA PLASTICA DO HOSPITAL DO SERVIDOR PUBLICO MUNICIPAL EM MAMOPLASTIAS DE AUMENTO
Resumo
Introdução: A mamoplastia de aumento vem se tornando cada vez mais frequente no Brasil e no mundo há várias décadas, com resultados melhores e mais seguros ao longo do tempo. Apesar da evolução das táticas de prevenção, complicações não são raras. O procedimento envolve a utilização de um corpo estranho e está sujeito a intercorrências diferentes das de outros tipos de cirurgia. Múltiplos fatores podem afetar os resultados de cirurgias com implantes mamários, como a seleção de pacientes, a escolha dos implantes, a técnica cirúrgica e os cuidados pós-operatórios. A ineficiência em realizar qualquer uma destas etapas do tratamento pode resultar em um aumento na taxa de complicações e reintervenções cirúrgicas.
Objetivo: Revisar a experiência em mamoplastias de aumento com inclusão de implantes de silicone, realizadas por residentes de Cirurgia Plástica no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, no período de setembro de 2020 a setembro de 2022, incluindo técnica cirúrgica utilizada, perfil epidemiológico das pacientes, tipo de implantes e prevalência de complicações dessas cirurgias.
Método: Estudo retrospectivo através da análise dos prontuários de 70 pacientes submetidas a mamoplastia de aumento com implantes de silicone, no período de setembro de 2020 a setembro de 2022, na clínica de Cirurgia Plástica do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. As pacientes foram operadas por residentes em cirurgia plástica, sob a supervisão adequada de um cirurgião plástico assistente do Serviço de Cirurgia Plástica do HSPM, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Resultado: Foram operadas 273 pacientes entre janeiro de 2014 e julho de 2017. A média de idade foi 32,4 anos e a média de volume dos implantes 280mL. Complicações foram encontradas em 23 pacientes (8,42%). Foram observados 5 (1,83%) casos de seroma. Duas (0,73%) pacientes apresentaram hematoma. Uma (0,36%) paciente apresentou contratura capsular. Quatro (1,46%) pacientes desenvolveram estrias. Três (1,09%) pacientes apresentaram alargamento e hipertrofia de cicatrizes. Uma (0,36%) paciente apresentou deiscência de sutura. Houve um (0,36%) caso de pneumotórax. Duas (0,73%) pacientes necessitaram reabordagem por assimetria de sulco e três (1,09%) desenvolveram pseudoptose. Houve um (0,36%) caso de “rippling”. Não foi observado nenhum caso de infecção.
Conclusão: A complicação mais frequente em mamoplastia de aumento, no período de janeiro de 2014 a julho de 2017, no Serviço de Cirurgia Plástica do HSPM - SP foi seroma.
Introdução
O Brasil lidera em cirurgias plásticas estéticas, com 2.049.257 procedimentos em 2022, sendo a mamoplastia de aumento a segunda mais comum (243.923 cirurgias). Estudos enfatizam a importância da seleção criteriosa das pacientes, técnicas cirúrgicas e cuidados pós-operatórios para evitar complicações e reintervenções. A satisfação geral é alta, apesar das reoperações para tratar contratura capsular e assimetria. Não há um consenso sobre a abordagem padrão, com diferentes condutas descritas na literatura. Conhecer as variáveis e complicações associadas é crucial para um plano cirúrgico bem-sucedido, requerendo revisão e atualização constantes das condutas devido à evolução da Cirurgia Plástica.
Objetivo
Revisar a experiência em mamoplastias de aumento com inclusão de implantes de silicone, realizadas por residentes de Cirurgia Plástica no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, sob supervisão adequada de cirurgião plástico membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no período de setembro de 2020 a setembro de 2022, incluindo técnica cirúrgica utilizada, perfil epidemiológico das pacientes, tipo de implantes e prevalência de complicações dessas cirurgias.
Método
Estudo retrospectivo analisou prontuários de 70 pacientes submetidas a mamoplastia de aumento primária com implantes de silicone gel coesivo, de setembro de 2020 a setembro de 2022, na clínica de Cirurgia Plástica do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. As cirurgias foram realizadas por residentes de Cirurgia Plástica sob supervisão de um cirurgião plástico assistente, membro titular da SBCP. Incluídas pacientes com mamoplastia de aumento primária, excluindo-se mastopexia associada, mamoplastia secundária, reconstrução de mama, cirurgias concomitantes e prontuários incompletos. Protocolo do serviço: IMC <27 kg/m² e tabagistas aconselhadas a parar de fumar 12 semanas antes.
Variáveis quantitativas: idade, IMC e volume do implante. Variáveis qualitativas: comorbidades, uso de medicamentos contínuos, via de acesso (inframamário, periareolar ou axilar), localização do implante (subfascial, subglandular ou retromuscular), características (formato e projeção) e superfície da prótese (lisa, texturizada ou poliuretano), e complicações pós-operatórias. Acompanhamento mínimo de seis meses e máximo de dois anos, com avaliações em sete dias, duas semanas, um mês, três meses, seis meses e doze meses pós-cirurgia. Pacientes com complicações tiveram acompanhamento mais frequente.
Técnica Cirúrgica
Na consulta pré-operatória, avaliou-se a expectativa da paciente e histórico médico. O volume das próteses foi definido por provadores e características morfológicas. A escolha entre posicionamento subglandular ou submuscular foi determinada pelo "pinch test": espessura menor que 2 cm indicava plano submuscular; demais casos, subglandular. A técnica anestésica variou conforme o plano de inserção e via de acesso: plano submuscular e via axilar requeriam anestesia geral; demais, anestesia local e sedação.
Assepsia e antissepsia com clorexidina foram realizadas em todas as cirurgias. As incisões foram inframamária ou periareolar inferior, com dissecção subglandular ou submuscular. Em casos de submuscular, a inserção medial do músculo peitoral maior foi seccionada para minimizar a mobilização superior da prótese.
Próteses de tamanhos diferentes foram usadas para corrigir assimetrias mamárias. Luvas cirúrgicas foram trocadas antes da inserção das próteses, e a loja foi irrigada com solução antibiótica (cefazolina e gentamicina). Não foram usados drenos. O fechamento foi realizado com profilaxia antimicrobiana e medidas contra tromboembolismo venoso.
Resultado
Setenta pacientes foram submetidas a mamoplastia de aumento. A idade média foi de 33,7 anos. O IMC médio foi de 23,44kg/m2. Vinte e seis tinham comorbidades (37,1%): hipotireoidismo (26,9%), ansiedade (15,4%), cirurgia bariátrica (7,7%), mamas tuberosas (7,7%), valvoplastia (7,7%), tabagismo (7,7%), hipertensão (7,7%), asma (7,7%), retocolite ulcerativa (3,8%), diabetes tipo I (3,8%) e síndrome dos ovários policísticos (3,8%).
A maioria das próteses foi inserida em plano subglandular (85,7%), com incisão inframamária (94,3%). Os implantes Motiva foram os mais usados (74,3%), seguidos pelo CRM Medic (13,5%) e Mentor (5,7%). Todos foram redondos, 90% com alta projeção e 74,3% nanotexturizados.
O volume variou de 200ml a 500ml (média de 309ml), com 21,5% usando volumes diferentes para corrigir assimetria. Residentes do segundo e terceiro ano realizaram 82,8% e 17,1% das cirurgias, respectivamente, sob supervisão. A maioria foi feita com anestesia local e sedação (87,2%), com complicações em 24,2% dos casos: cicatriz hipertrófica (29,4%), hematoma (5,8%), seroma (5,8%), deiscência (17,6%), rippling (5,8%), bottoming out (5,8%), ptoses mamárias (11,7%), eczema (5,8%) e estrias (5,8%).
Discussão
A mamoplastia de aumento é uma das cirurgias mais realizadas pelo cirurgião plástico, sendo essencial dominá-la com excelência para o desenvolvimento técnico. Manter uma abordagem padrão é crucial para aprimorar tanto a técnica quanto as habilidades necessárias para procedimentos mais complexos, visando sempre resultados seguros e satisfatórios para a paciente.
O sucesso da mamoplastia de aumento depende de diversas variáveis, divididas entre fatores relacionados à paciente e à cirurgia. Este estudo analisa a experiência do serviço em mamoplastia de aumento com próteses de silicone, revisando a seleção de pacientes, a técnica cirúrgica e as complicações pós-operatórias.
Em relação aos fatores relacionados à paciente, foram considerados idade, índice de massa corporal (IMC) e comorbidades. A idade média das pacientes foi de 33,7 anos, não mostrando relação crucial com complicações, mas a idade avançada pode influenciar na cicatrização. Quanto ao IMC, um valor médio de 23,44 kg/m2 foi observado, com poucas complicações em pacientes com IMC acima de 27. Comorbidades foram presentes em 37,1% das pacientes, controladas clinicamente, porém 30,1% dessas pacientes apresentaram alguma complicação no pós-operatório.
Quanto às variáveis relacionadas à cirurgia, a via de acesso inframamária foi predominante (94,3%), com colocação subglandular das próteses em 85,7% dos casos. A escolha do plano anatômico considerou tanto os riscos de complicações quanto a anatomia da paciente e a experiência do cirurgião. Implantes redondos foram utilizados em 100% dos casos, embora a literatura proponha maior risco de contratura capsular em comparação com implantes anatômicos.
A literatura sobre associação do volume do implante com complicações é heterogênea, com estudos sugerindo riscos aumentados com implantes volumosos. Quanto à textura da superfície do implante, há controvérsias, mas implantes texturizados parecem reduzir o risco de contratura capsular e reabordagens cirúrgicas. No entanto, estudos outros recentes associam implantes texturizados a um maior risco de BIA-ALCL. Uma alternativa recente é a nanotextura, que foi a mais utilizada nesse série de casos.
Estratégias para prevenir complicações incluem irrigação da loja com antibióticos, uso de protetores de mamilo estéreis e antibióticos profiláticos. O uso de drenos não é favorecido, pois aumenta o risco de infecção. No período de dois anos de acompanhamento, 24,2% das pacientes apresentaram complicações, sendo a reabordagem cirúrgica rara e o índice de satisfação alto.
Esse estudo destaca a importância da seleção criteriosa de pacientes, da técnica cirúrgica adequada e do acompanhamento pós-operatório para minimizar complicações e garantir resultados satisfatórios na mamoplastia de aumento.
Conclusão
Com a elevada demanda da mamoplastia de aumento, estratégias para reduzir o risco de complicações e garantir a segurança do procedimento devem ser otimizadas. Nesse trabalho, foi revista a experiência em mamoplastia de aumento do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo do ano de 2020 a 2020, analisando as variáveis relacionadas às pacientes operadas, à cirurgia, revisitando a técnica cirúrgica utilizada e as complicações pós-operatórias enfrentadas. A maioria das estratégias para reduzir o risco de qualquer complicação baseia-se em precauções assépticas meticulosas. Além disso, a história de tabagismo e um IMC elevado acarretam o risco de complicações e, portanto, devem ser rigorosamente manejadas em consultas pré-operatórias. De forma geral, as práticas em mamoplastia de aumento do serviço estão de acordo com o preconizado na literatura mundial e oferecem às pacientes uma cirurgia segura, com baixas taxas de complicações e elevados índices de satisfação.
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Palavras Chave
Mamoplastia; implantes mamários; complicação mamoplastia aumento
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospita do Servidor Público Municipal de São Paulo - São Paulo - Brasil
Autores
LEANDRO DE PAULA GREGORIO, JOSE AUGUSTO CALIL, ROBERTO LUIZ SODRE, STEPHANIE PANIZZON, JEDIAEL MAGALHÃES PAIVA, CICERO RICARDO MACHADO DE MATOS