60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ANALISE DA RECONSTRUÇAO MAMARIA IMEDIATA: ABORDAGENS E RESULTADOS NOS ULTIMOS DOIS ANOS NO INSTITUTO NACIONAL DE CANCER

Resumo

Este estudo investiga os métodos e resultados da reconstrução mamária imediata (RMI) após mastectomia, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Desde 1999, a RMI é garantida pelo SUS, utilizando técnicas que incluem implantes de silicone e métodos autólogos. Dados do Ministério da Saúde indicam um aumento nas reconstruções mamárias devido à expansão dos serviços e capacitação profissional.
O estudo retrospectivo abrange 167 casos de RMI realizados entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2024, excluindo casos com informações incompletas ou que não envolvem câncer de mama. As variáveis analisadas incluem o tipo de implante na reconstrução (prótese ou expansor), lateralidade, simetrização contralateral, complicações e intervenções posteriores. Os resultados mostram que na maioria das reconstruções foram utilizadas próteses de silicone (49,7%), seguidas por expansores (43,1%). Complicações ocorreram em 11,4% dos casos, sendo a necrose superficial a mais comum.
A análise destaca a importância da abordagem multidisciplinar e do manejo eficaz das complicações. A simetrização contralateral foi realizada em 22,2% dos casos, e 47,4% das complicações foram resolvidas com intervenções apropriadas. Conclui-se que a RMI no Instituto Nacional de Câncer proporciona bons resultados estéticos e funcionais, apesar dos desafios, e reforça a necessidade de técnicas cirúrgicas adequadas e gestão eficiente das complicações para melhorar a qualidade de vida das pacientes, principalmente dentro do âmbito de saúde pública nacional.

Introdução

A reconstrução de mama imediata (RMI) após mastectomia é uma abordagem cirúrgica que visa restaurar a forma e a simetria da mama, proporcionando benefícios estéticos e psicológicos significativos para as pacientes 1. Sua primeira descrição foi em 1895, quando o cirurgião alemão Vincent Czerny realizou uma mastectomia seguida do “transplante” com tecido autólogo proveniente de um lipoma no flanco de uma paciente 2. Esse procedimento tem ganhado crescente aceitação em serviços de saúde ao redor do mundo, inclusive é assegurado no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil desde 1999 3.
A RMI pode ser realizada utilizando diversos métodos, como implantes de silicone e técnicas autólogas, onde tecidos da própria paciente são usados para a reconstrução mamária. Estudos indicam que a reconstrução imediata pode melhorar a qualidade de vida e a autoestima das pacientes, além de reduzir a ansiedade relacionada à imagem corporal pós-mastectomia 4.
No Brasil, a oferta de RMI no SUS tem sido objeto de pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas, visando garantir o acesso a todas as mulheres que necessitam desse procedimento. Segundo dados do Ministério da Saúde, houve um aumento significativo no número de reconstruções mamárias realizadas nos últimos anos, refletindo a ampliação dos serviços especializados e a capacitação dos profissionais de saúde 5,6.
A abordagem multidisciplinar também é de suma importância no processo de reconstrução de mama, envolvendo cirurgiões plásticos, oncologistas, mastologistas, psicólogos e fisioterapeutas, para aperfeiçoar os resultados estéticos e funcionais e garantir uma recuperação mais completa das pacientes 7.
Portanto, devido a importância desse tema em nosso cenário nacional e internacional, este estudo visa analisar as abordagens e resultados de RMI no Instituto Nacional de Câncer nos últimos 2 anos, uma referência nacional em prevenção, diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer, subordinado ao Ministério da Saúde do Brasil e que desempenha um papel central na formulação das políticas públicas de combate ao câncer no país 8.

Objetivo

Avaliar os resultados e desfechos das reconstruções mamárias imediatas realizadas no Instituto Nacional de Câncer nos últimos dois anos, investigando as seguintes variáveis: a utilização de prótese ou expansor, a ocorrência de simetrização contralateral, a presença ou não de complicações e, em casos positivos, se houve resgate da reconstrução ou explante.

Método

Este estudo foi realizado por meio de uma análise retrospectiva de prontuários médicos. Foram incluídos todos os casos de reconstrução mamária imediata realizados no Instituto Nacional de Câncer no período de fevereiro de 2022 a fevereiro de 2024. Foram excluídos da análise os prontuários com informações incompletas, as reconstruções tardias, cirurgias de reconstrução de mama imediata devido a outras comorbidades que não o câncer de mama (como traumas e ou malformação congênita) e as pacientes com perda de seguimento ao longo dos anos.

Os dados coletados incluem:
• Tipo de Reconstrução: utilização de prótese ou expansor.
• Lateralidade: reconstrução unilateral ou bilateral.
• Simetrização Contralateral: no mesmo tempo cirúrgico
• Desfechos Negativos: identificação de complicações e desfechos adversos.
• Intervenções Posteriores: nos casos em que ocorreram desfechos negativos, foi analisado se houve sucesso no resgate da reconstrução após as medidas cabíveis ou se foi necessário realizar o explante da prótese/expansor.

Os dados foram analisados estatisticamente para identificar padrões e correlacionar variáveis com os desfechos observados.

Resultado

Neste estudo, foram analisados 167 casos de pacientes submetidas à reconstrução mamária imediata. Inicialmente, o estudo contou com 169 pacientes, porém 2 casos foram excluídos devido ao preenchimento incompleto de prontuário. A distribuição dos casos operados por cada cirurgião chefe de ambulatório (Figura 1) foi a seguinte: Dr. Frederico Lucas foi o cirurgião responsável por 68 dos casos (40,7%), Dra. Patrícia Breder, por 66 dos casos (39,5%) e Dr. Daniel Sakaki, 33 casos (19,8%).
Dos 167 casos analisados, foi utilizada prótese de silicone em 83 casos (49,7%), expansor em 72 casos (43,1%) e não foi colocada prótese em 12 casos (7,2%) (Figura 2). Entre os casos analisados, 7 foram de mastectomia higiênica com reconstrução imediata pela plástica com retalhos locais. A mastectomia foi realizada na mama esquerda em 83 casos (49,7%), na mama direita em 61 casos (36,5%) e de forma bilateral em 13 casos (7,8%) (Figura 3).
Houve simetrização contralateral no mesmo tempo cirúrgico em 37 dos 167 casos (22,2%). Durante os dois anos de avaliação, foram observados 19 casos de complicações, correspondendo a 11,4% do total de casos (Figura 4). A causa mais comum de complicação foi a necrose superficial, ocorrendo em 11 casos (57,9% das complicações). Outras complicações incluíram infecção (5 casos, 26,3%), migração da prótese (1 caso, 5,3%) e assimetria mamária (1 caso, 5,3%).
Das 19 complicações, foi possível realizar o resgate da reconstrução de mama em 9 casos (47,4%). As técnicas utilizadas incluíram debridamento precoce e a troca de prótese de silicone por expansor. Em 8 casos (42,1%), foi necessário realizar o explante da prótese.

Discussão

Os resultados apresentados neste estudo demonstram uma série de achados importantes sobre a reconstrução mamária imediata, refletindo tanto as práticas cirúrgicas quanto as complicações associadas a esses procedimentos. A distribuição dos casos entre os diferentes cirurgiões e os tipos de implantes utilizados oferecem uma visão detalhada das estratégias adotadas em um centro específico de tratamento.
A maioria das reconstruções foi realizada com prótese de silicone (49,7%), seguido por expansores (43,1%) e, em menor proporção, sem o uso de próteses (7,2%). Esses dados estão alinhados com a literatura, onde a utilização de próteses de silicone é frequentemente preferida devido aos resultados estéticos superiores e ao menor tempo cirúrgico comparado às reconstruções com retalhos 9. No entanto, o uso de expansores ainda é uma prática comum, especialmente em casos onde a pele precisa ser gradualmente expandida para acomodar uma prótese definitiva 10.
A lateralidade das mastectomias mostrou uma distribuição relativamente equilibrada entre a mama esquerda (49,7%) e a direita (36,5%), com um menor número de mastectomias bilaterais (7,8%). Estudos anteriores indicam que a escolha entre mastectomia unilateral e bilateral pode ser influenciada por vários fatores, incluindo a presença de mutações genéticas, histórico familiar de câncer de mama e a preferência da paciente 11.
A taxa de simetrização contralateral simultânea foi de 22,2%, o que sugere uma abordagem proativa para alcançar a simetria estética, um fator crítico na satisfação das pacientes com os resultados da reconstrução 12. Além disso, a simetrização contralateral no mesmo tempo cirúrgico, quando utilizada prótese na reconstrução imediata, agrega valor importante em um cenário do SUS, onde infelizmente temos uma grande fila de reconstruções mamárias a serem realizadas e um tempo de espera exacerbado para as pacientes 13. Fazendo a reconstrução com simetrização no mesmo tempo cirúrgico diminui uma etapa da reconstrução de mama final.
A taxa global de complicações foi de 11,4%, com a necrose superficial sendo a complicação mais comum (57,9% dos casos). A necrose é uma complicação bem documentada na literatura, frequentemente associada a fatores como vascularização insuficiente dos tecidos e técnicas cirúrgicas 14. As infecções, que representaram 26,3% das complicações, continuam sendo uma preocupação significativa, apesar das melhorias nas técnicas assépticas e nos protocolos de antibióticos 15.
O manejo das complicações mostrou que em 47,4% dos casos foi possível realizar o resgate da reconstrução, destacando a importância de intervenções precoces e adequadas. No entanto, em 42,1% dos casos, foi necessário realizar o explante, sublinhando os desafios clínicos associados às complicações mais graves 16.
As sete reconstruções com retalhos locais após mastectomia higiênica também merecem destaque. Essas técnicas, embora menos comuns que as próteses, são essenciais em casos onde a pele e os tecidos circundantes necessitam de reconstrução mais extensa. Estudos mostram que, embora essas técnicas possam apresentar um tempo de recuperação mais longo, elas oferecem bons resultados estéticos e funcionais a longo prazo 17.

Conclusão

O presente estudo teve como objetivo avaliar os resultados e desfechos das reconstruções mamárias imediatas realizadas no Instituto Nacional de Câncer nos últimos dois anos, investigando variáveis como a utilização de prótese ou expansor, a ocorrência de simetrização contralateral, a presença de complicações e, em casos positivos, se houve resgate da reconstrução ou explante.
Os achados deste estudo estão alinhados com a literatura existente, demonstrando a eficácia e os desafios das reconstruções mamárias imediatas. A utilização de próteses de silicone e expansores mostrou ser uma abordagem predominante e eficaz, enquanto a simetrização contralateral contribuiu significativamente para a satisfação estética das pacientes. A ocorrência de complicações, embora presente, foi manejada de forma eficaz em muitos casos, com estratégias de resgate da reconstrução sendo implementadas com sucesso.
Em conclusão, os resultados deste estudo fornecem uma visão abrangente das práticas de reconstrução mamária imediata no Instituto Nacional de Câncer, ressaltando a importância de técnicas adequadas para minimizar riscos e tratar complicações, melhorando assim os desfechos estéticos e a qualidade de vida das pacientes. A seleção criteriosa das técnicas de reconstrução e o manejo eficaz das complicações são essenciais para melhorar os resultados estéticos e a qualidade de vida das pacientes.

Referências

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2. Uroskie, T. W. & Colen, L. B. History of Breast Reconstruction. Semin. Plast. Surg. (2004)
3. Diário Oficial da União. LEI No 9.797, DE 6 DE MAIO DE 1999. (1999)
4. Nelson, J. A. et al. Long-Term Patient-reported Outcomes Following Postmastectomy Breast Reconstruction: An 8-year Examination of 3268 Patients. Ann. Surg. 270, 473–483 (2019)
5. Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. 2022 https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2023-incidencia-de-cancer-no-brasil (2022)
6. Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Dados e Números sobre Câncer de Mama - Relatório Anual 2023. 2023 https://www.inca.gov.br/publicacoes/relatorios/dados-e-numeros-sobre-cancer-de-mama-relatorio-anual-2023 (2023)
7. Damsgaard, T. E. & Thomsen, J. B. Breast reconstruction—the true multidisciplinary approach. Ann. Breast Surg. 7, 1–1 (2023)
8. Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Competências — Instituto Nacional de Câncer - INCA. 2022 https://www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/competencias (2022)
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10. Spear, S. L. & Spittler, C. J. Breast reconstruction with implants and expanders. Plast. Reconstr. Surg. 107, 177–188 (2001)
11. Isern, A. E., Tengrup, I., Loman, N., Olsson, H. & Ringberg, A. Aesthetic outcome, patient satisfaction, and health-related quality of life in women at high risk undergoing prophylactic mastectomy and immediate breast reconstruction. J. Plast. Reconstr. Aesthetic Surg. 61, 1177–1187 (2008)
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13. Portal G1 | Bom Dia Brasil. Mais de 20 mil mulheres aguardam na fila de espera para cirurgia de reconstrução de mama na rede pública. (2023)
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17. Nahabedian, M. Y., et. al. Breast Reconstruction with the free TRAM or DIEP flap. PRS (2002)

Palavras Chave

reconstrução de mama imediata; complicações pós cirúrgicas; cirurgia plástica

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Instituto Nacional de Câncer - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

DUNIA VERONA, MARLON CAZAROTTI FARIA, MARJORIE PAVESI FERREIRA, LUISA HAIASHIDA RODRIGUES, TIAGO RICCI CACHUBA, FREDERICO AVELLAR SILVEIRA LUCAS