Dados do Trabalho
Título
LIPOENXERTIA GUIADA POR ULTRASSOM COMO UM AVANÇO NO CONTORNO CORPORAL
Resumo
Observa-se uma crescente demanda por um padrão corporal mais atlético, ressaltando a relevância do enxerto de gordura na melhoria do contorno corporal. O objetivo deste estudo foi analisar criticamente a literatura disponível para compreender a importância do ultrassom na lipoenxertia corporal. A metodologia consistiu em uma revisão sistemática de literatura, realizando uma busca avançada na base de dados PubMed, resultando na seleção de 9 artigos pertinentes. A análise desses estudos destacou a eficácia da lipoenxertia guiada por ultrassom para aprimorar o contorno corporal, reduzindo complicações e otimizando os resultados estéticos. Conclui-se que a lipoenxertia guiada por ultrassom representa uma abordagem promissora e segura para o aprimoramento do contorno corporal, ressaltando a necessidade contínua de pesquisa e aprimoramento técnico nessa área.
Introdução
De maneira dinâmica, é perceptível a alteração no padrão estético corporal buscado. Simultaneamente, a Cirurgia Plástica evolui, visando aprimorar técnicas que atendam às expectativas do paciente de forma segura. Tem-se observado um crescente interesse por um corpo mais atlético, cujo resultado muitas vezes não é alcançado apenas com técnicas convencionais, como a lipoaspiração isolada ou associada à abdominoplastia. Nesse cenário, o enxerto de gordura tem se mostrado uma opção valiosa para aprimorar o contorno corporal, seja para adicionar volume ou definir grupos musculares.
A crescente procura pela cirurgia de contorno corporal com enxerto de gordura, principalmente em áreas como os glúteos, resultou no aumento do número de complicações associadas ao procedimento, incluindo casos documentados de óbito. Em 2015, o estado da Flórida (EUA) foi alertado após diversos casos de óbitos relacionados à lipoenxertia glútea, levando à formação de uma força-tarefa para identificar as causas do problema e reduzir os danos associados1.
Desde então, a busca pelo corpo atlético continuou, mas houve um aumento no cuidado em relação à técnica adequada para garantir um procedimento seguro. Recomenda-se o enxerto de gordura no plano subcutâneo, especialmente na região glútea, para prevenir a complicação mais temida: embolia gordurosa2. No entanto, nos casos de óbitos ocorridos na Flórida, embora os cirurgiões acreditassem ter realizado o enxerto no plano adequado, autópsias revelaram sinais de embolia gordurosa1,2.
Nesse contexto, as tecnologias, particularmente o aparelho de ultrassom, ganham destaque como uma ferramenta crucial para garantir a segurança tanto do paciente quanto do cirurgião plástico. O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sistemática de literatura para analisar a importância do ultrassom nos enxertos de gordura em cirurgias plásticas estéticas de contorno corporal.
Objetivo
Analisar a importância do ultrassom nos enxertos de gordura em cirurgias plásticas estéticas de contorno corporal.
Método
O presente estudo visa correlacionar o uso do ultrassom com lipoenxertia em cirurgias de contorno corporal, dessa forma, optou-se por realizar uma revisão sistemática de literatura na base de dados Pubmed.
A partir dos MeSH terms "ultrasound", "fat grafting" e "fat graft", utilizando os operadores booleanos "and" e "or" respectivamente, foi conduzida uma pesquisa em março de 2024. Realizado uma busca avançada no PubMed com os termos ”Ultrasound AND fat grafting OR fat graft”, nos idiomas inglês e português.
Inicialmente, foram identificados 2869 artigos completos publicados entre os anos de 1928 e 2024. Os artigos foram analisados através da leitura dos resumos, sendo considerados critérios de exclusão: estudos não relacionados ao contorno corporal, como lipoenxertia em face ou mama, bem como aqueles que não empregaram aparelho de ultrassom no procedimento. Após esta etapa, 60 artigos foram selecionados.
Em seguida, realizou-se a leitura integral dos 60 artigos, optando-se apenas por aqueles que apresentavam correlação com o tema central do estudo: o uso do ultrassom na lipoenxertia estética de contorno corporal. Dessa forma, 9 artigos relevantes foram obtidos para análise.
Os dados coletados foram tabulados para proporcionar uma visão abrangente dos resultados dos artigos selecionados, categorizando-se em: técnica, amostra, região corporal, resultados e complicações. Em seguida, foi realizada uma análise dos textos, seguida por uma leitura interpretativa e redação.
Resultado
Em relação ao tipo de estudo, foram encontrados 6 séries de casos, 2 estudos retrospectivos e 1 revisão de literatura.
Dos 9 artigos analisados, 60% foram realizados em glúteos, 20% em serrátil, 10% no reto abdominal e 10% em bíceps femoral. Tratando-se da região glútea, todos os estudos foram unânimes em afirmar que a enxertia intramuscular é proscrita.
Em relação aos resultados dos procedimentos, a maioria dos estudos concluiu que houve uma melhoria significativa no contorno corporal, aumento da projeção e correção de irregularidades superficiais. Além disso, a técnica de enxerto de gordura intramuscular foi associada a um aumento médio de 73,9% na espessura muscular, especialmente no complexo serrátil e oblíquo externo. O uso do ultrassom intraoperatório também foi associado a uma redução significativa no risco de complicações graves, como embolia gordurosa, contribuindo para uma taxa média de complicações baixa.
(Tabela1)
Discussão
A utilização do ultrassom em procedimentos médicos é influenciada pela frequência das ondas empregadas. Diferentes frequências de ultrassom oferecem vantagens específicas, com ondas de frequência mais alta proporcionando uma resolução superior e as de frequência mais baixa penetrando mais profundamente nos tecidos. Esta diversidade de frequências, variando de 1 a 20 MHz para ultrassom diagnóstico, atende às necessidades de diversas especialidades médicas. Cirurgiões plásticos se beneficiam especialmente de ondas com frequências entre 11 e 20 MHz para a análise de estruturas subcutâneas e identificação do plano ideal para lipoenxertia.2
Pazmiño2 destaca a importância de evitar a lipoenxertia intramuscular na região glútea devido ao risco aumentado de complicações graves, como embolia gordurosa2. Esta constatação é apoiada por outro estudo do mesmo autor, que destacou os benefícios do ultrassom intraoperatório na precisão da injeção de enxerto de gordura no espaço subcutâneo, reduzindo assim o risco de complicações2,3,4.
O tecido subcutâneo é subdividido em camadas superficial e profunda. O plano subcutâneo superficial reside acima da fáscia glútea superficial, enquanto o plano subcutâneo profundo fica entre as fáscias glúteas superficial e profunda.2,5 O plano preferido para a lipoenxertia seria o subcutâneo superficial, evitando os riscos associados à injeção intramuscular ou em planos subcutâneos mais profundos. O ultrassom desempenha um papel crucial na visualização das fáscias e na orientação segura do procedimento.3,4
Gonzalez et al.5 descreveram em um estudo retrospectivo a técnica de lipoaspiração profunda com enxerto intramuscular do complexo serrátil e oblíquo, destacando a melhoria da espessura muscular sem eventos adversos significativos. O uso do ultrassom contribuiu para evitar danos vasculares e pulmonares, além de permitir uma delimitação precisa do plano muscular. Tanto a infiltração quanto a enxertia foram realizadas com auxílio do ultrassom.6,7
O conhecimento anatômico pode não ser suficiente para evitar complicações, especialmente na região glútea, onde a embolia gordurosa pode ocorrer sem a necessidade de perfuração completa das veias glúteas.3,4,7 O alto risco associado à região glútea também se deve à sua anatomia, com veias que desembocam diretamente na veia ilíaca interna, facilitando a disseminação do êmbolo de gordura e aumentando o risco de complicações cardíacas.4,6,7,8
Vidal-Laureano et al.6 reforçam que mesmo cirurgiões plásticos experientes, que realizaram enxertia em plano subcutâneo, apresentaram casos de embolia gordurosa em laudos de autópsia. Viaro et al.8 publicaram uma série de casos de lipoenxertia no músculo reto abdominal, destacando a relativa segurança deste local de enxertia devido à drenagem venosa menos direta para o coração. No entanto, o uso do ultrassom é altamente recomendado para garantir a segurança do procedimento.8,9
Além de ser vital durante o procedimento, o ultrassom também desempenha um papel importante no pré e pós-operatório, permitindo a avaliação objetiva dos resultados cirúrgicos.10 Cipriani et al.11 demonstraram a eficácia da lipoenxertia muscular do bíceps femoral com auxílio do ultrassom, resultando em significativa volumização do grupo muscular.
Em suma, esses estudos fornecem uma compreensão abrangente dos benefícios e desafios associados ao uso de enxerto de gordura e técnicas de contorno corporal. Destaca-se a importância da precisão na técnica e do uso de ferramentas como o ultrassom para garantir a segurança e a eficácia desses procedimentos.
Conclusão
O uso do ultrassom intraoperatório demonstrou uma contribuição significativa para aprimorar a precisão do plano e os resultados estéticos. É também útil para obter dados objetivos de resultados cirúrgicos. No entanto, ressalte-se a importância de pesquisas futuras mais robustas, com maior amostragem e follow-up, para validar e expandir os resultados encontrados.
Referências
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Palavras Chave
Ultrasound; Fat graft; Body contour
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
UNICAMP - São Paulo - Brasil
Autores
MAYARA ROZANTE, DAVI CALDERONI, PAULO KHARMANDAYAN, LIVIA CARVALHO, CAIO LEVY, JULIA FACCHI